Se voltarmos mais no tempo talvez encontremos mais exemplos, mas vamos ficar nos últimos 60 anos, período que, em sua maioria, acompanhei bem de perto, como jornalista. De 1960 para cá, a cada 30 anos, elegemos um salvador da pátria, alguém com discurso populista e bem próximo da irresponsabilidade pelo que gera de expectativa na população e frustração imediata. Começamos com Jânio Quadros, que, como os que se seguiram, centrou sua campanha no combate à corrupção, no varrer do país – o símbolo de sua campanha era uma vassourinha – os políticos corruptos e suas trapalhadas. Jânio durou pouco, menos de nove meses. Tentou um golpe. Renunciou na expectativa de não ter seu pedido aceito pelo Congresso e, assim, ser mantido no cargo com poderes absolutos.

Trinta anos depois, o povo, sempre crédulo e fácil de ser enganado, escolheu outro “pai da pátria”, defensor dos pobres e oprimidos, que alardeava honestidade e firmeza contra os corruptos e corruptores, os “marajás da política”, que prometia banir da vida brasileira. Durou pouco também, apeado do Poder por um processo de impeachment que, alguns anos depois, vitimaria outro presidente, aliás, uma presidenta, a primeira que o país teve. Mas esta é outra página de nossa história que falaremos de outra vez.

A decepção, novamente, com nossa esquerda, foi o caldo que alimentou outra “discursaiada” de juras e promessas de combate à corrupção que acabou resultando na eleição do presidente Bolsonaro, que, se méritos teve para se eleger, foi o de perceber com antecedência razoável o desgaste petista e apostar num discurso de moralidade e de proteção à família. Um discurso que, na prática, se mostra vazio e sem qualquer efeito, pois até aqui, o presidente tem mesmo usado seus poderes e a fraqueza de seus comandados para impedir que avancem investigações que certamente atingiriam pessoas muito próximas a ele. 

O esvaziamento da oposição tem favorecido Bolsonaro, que sustenta teses sem sentido, sem provas, como fumaça para esconder o até aqui fracassado governo que comanda. Inverdades como a existência de brechas para fraudes no processo eleitoral brasileiro, acusação que faz sem provas e que, certamente, vai manter acesa caso venha a disputar a reeleição – na hipótese de não ter o mesmo destino de seus antecessores de igual comportamento – como instrumento para alimentar a sanha de seus seguidores radicais.

Infelizmente, para nós, brasileiros, o atual governo segue uma linha de conduta oposta à que anunciou nos palanques. Não tem um rumo e, pelas composições que se vê obrigado a fazer para se sustentar, sinaliza que não busca nem sabe onde buscar um rumo para a segunda metade do mandato. Basta ver a quem se alinhou. Exatamente aos que usou para acusar, construindo a base de seu discurso. Sua nova base não inspira confiança. O melhor dela é que gerou desconfiança também entre os que, por terem a força, inspiraram confiança nos brasileiros que, diga-se, adoram acreditar que determinados grupos são mais honestos que o restante da população. Embora a história mostre que não é bem assim.

A escolha de exaltados é cíclica no Brasil. O problema é que, na nossa a história, os escolhidos pais da pátria não se deram bem politicamente. Nada, infelizmente, sinaliza que será diferente.