PAULO CESAR DE OLIVEIRA

Nesta crise política, a hora é de muita cautela

Discutimos como se fará a substituição; mas quem será o escolhido?


Publicado em 06 de junho de 2017 | 03:00
 
 
 
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O jornal inglês “The Guardian” pode ter irritado setores da Igreja ao colocar uma charge com o Cristo Redentor tendo em uma das mãos um saco de dinheiro e, na outra, uma arma, ilustrando um artigo sobre a situação política brasileira. Pode ter ofendido uma nação, como dizem setores da Igreja, mas foi absolutamente correto em sua análise e, principalmente, em sua advertência. O jornal inglês viu o que nós, brasileiros, nos recusamos a enxergar e adverte que o povo está muito mais preocupado com quem vai cair, com quem pode ir para a cadeia, fazendo “figa” para que isso aconteça, esquecendo-se de que o mais importante é quem vai assumir o comando.

Não existe cadeira vaga no poder. A queda de um leva, necessariamente, à ascensão de outro. Nesta semana, se não houver alguma manobra política, o Tribunal Superior Eleitoral julgará o pedido de cassação do registro da chapa Dilma-Temer por crime eleitoral. Isso, que ninguém acredita que vá acontecer, poderia significar queda do presidente, deixando vaga a cadeira do Executivo. E nós discutindo como se fará a substituição, sem cuidarmos de quem será escolhido.

Seja de forma direta, como querem aqueles que, despejados, desejam retomar o poder, seja pela eleição indireta, como manda a Constituição, não podemos perder de vista “quem” colocar no comando. Em seu editorial, o “The Guardian” chama a atenção – como, registre-se, vimos fazendo – para os riscos de uma aventura eleitoral em momento como o vivido pelo Brasil. A desilusão com os políticos pode levar o povo a abraçar uma candidatura da teocracia ou dos radicais populistas – e como temos agentes dos dois extremos! –, na esperança de que, mudando tudo, numa suposta profilaxia política, estaremos solucionando nossa crise e nossos problemas crônicos.

É bom ficarmos atentos, pois, reafirmo, quem estamos construindo para colocar na cadeira? Se tivermos que decidir nos próximos meses, melhor que façamos isso pelo caminho de menor risco. De forma direta ou indireta, não pensemos em milagreiros. Foram exatamente eles que nos levaram ao lugar onde estamos. E da forma que for e quem for, o importante é que o povo não abra mão de seu direito e dever de acompanhar e cobrar os atos de seus governantes. Todas essas revelações de como se faz política no país têm gerado uma enorme indignação popular. Mas uma indignação insípida, acomodada, em vez de nos levar às ruas para cobrar, nos deixa apalermados, sem reação.

É preciso que o povo tome as rédeas do poder, não por meio de desvarios partidários, mas de cobrança firme, que seja pacífica sem ser passiva. Não somos o único país a sofrer com a corrupção do mundo político que arrasta os outros setores. Desde que o mundo é mundo, a praga da corrupção existe. O que nos faz diferentes dos demais países, do mundo mais desenvolvido, claro, é a brandura de nossas leis, a quase conivência de quem deveria fiscalizar e punir e, acima de tudo, a omissão do povo. Somos culpados, sim.

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