Paulo César de Oliveira

O fim da Lava Jato

Cultura de corrupção e os ataques a Moro e força-tarefa


Publicado em 06 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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Não é o que a maior parte do povo brasileiro deseja, mas existem fortes articulações e indícios da existência de setores, públicos e privados, trabalhando ativamente para acabar com a operação Lava Jato e desmoralizar o seu inspirador, o hoje ministro da Justiça, Sergio Moro.

Claro que todos sabem, e há muitos anos bato na tecla de que a impunidade, de grandes e pequenos, sempre foi o grande mal deste país. Isso não significa, porém, que se tenha que execrar os empresários do Brasil, e até mesmo fechar empresas altamente conceituadas tecnicamente em suas áreas de atuação, como parece acontecerá. A propina ou comissão, como era chamada, sempre fez parte do jogo, e quem não paga não tem trabalho. Mas, convenhamos, não era tão escancarada, política de governo, quase. Na era PT o propinoduto atingiu níveis criticados internacionalmente. Virou uma prática de governo para perpetuação de um grupo no poder.

Moro, corajosamente, escancarou o processo, a ponto de levar Lula para a cadeia. O presidente Bolsonaro, que viveu no Congresso 28 anos, devia ter ciência do toma lá dá cá e garantiu que não iria governar dessa forma e, claro, vem sendo atacado até porque é um presidente que “não tem papas na língua”.

Mas é também verdade que não conseguiu abolir totalmente a prática. Agora, os que querem neutralizar a Lava Jato em sua ação de combater a corrupção buscam atingir a reputação do ministro Moro, quando ainda como juiz, e do procurador Deltan Dallagnol, que estão sofrendo uma campanha difamatória, vinda tanto dos aliados do atual governo quanto de opositores, pois afinal, corrupção não é privilégio da direita nem da esquerda, é prática disseminada em todos os níveis de poder e na maioria dos países. Desmoralizar os principais rostos da operação é a tática para desacreditar os resultados da Lava Jato até aqui. Até os hackers, apostam alguns, estão sendo pagos, não se sabe por quem, para atuar contra a Lava Jato. Pode ser.

Há, porém, o outro lado. Se a operação é imprescindível mesmo para autoestima do brasileiro, seus condutores não são pessoas infalíveis. Erram tanto por desconhecimento da matéria jurídica quanto pela prepotência. Cometem abusos que precisam ser contidos. Punir os que, por interesses inconfessáveis, ou desconhecimento, erram é uma coisa. Desmoralizar uma operação que busca conter a corrupção seria um crime de lesa-pátria. E nessa tentativa, estamos chegando a extremos, como fez o ministro do Supremo Gilmar Mendes ao acusar, em entrevista, os integrantes da Lava Jato de agir como organização criminosa, por investigarem pessoas, inclusive ministros do STF. Gilmar não está errado, embora tenha sido violento em sua declaração, mas perde o direito de acusar os outros quando se arroga no de colocar pessoas, como seus colegas de Corte, como seres divinos, inalcançáveis pelas leis. Eles não são criaturas divinas, criadas por Deus. São criaturas criadas pelo homem, posto que escolhidos pelos presidentes de plantão.

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