Passado um ano, fica cada dia mais claro que o governo Bolsonaro não pode ser tratado como um todo. Ele são vários. Há uma parte que deu certo: Economia, Agricultura, Minas e Energia e Infraestrutura são bons exemplos; outra parte é mediana, o que significa dizer que, se não ajuda, também não atrapalha tanto; e outra que é simplesmente desastrosa.
É a parte ocupada por gente que se julga no direito de seguir de perto os passos do chefe com declarações e posicionamentos que servem só para desgastar politicamente – interna e externamente – um governo que já deixou evidente que não tem um rumo claro.
Bolsonaro venceu as eleições sem um programa consistente. Venceu porque teve o mérito de, antes dos outros, políticos, detectar o desgaste do PT. Foi o antipetista, enfeitado com algumas propostas econômicas de Paulo Guedes, que ele, e nisso reside seu maior mérito, procura preservar e até exaltar como o norte de seu governo. Mas até Guedes, o czar da economia, andou dando suas escorregadas, com declarações impensadas, na linha do chefe. Para salvação do governo e pela sua importância no país, o superministro entendeu que, no mundo político e dos negócios, nem tudo que se pensa pode e deve ser falado. Mais: que, no governo, apenas o presidente tem autonomia para dizer cobras e lagartos – mesmo assim, dentro de alguns limites.
A maioria do ministério e, pior, da turma do segundo escalão não entendeu isso. Não entendeu a profundidade do velho adágio popular de que “bobo calado passa por ladino”. Não perdem uma oportunidade para falar besteiras sem medir suas consequências. A demissão de Roberto Alvim, que parecia ser o “docinho de coco” do presidente, que o elogiara horas antes, deve servir de exemplo para os boquirrotos da equipe. Alvim escancarou o que todos já sabiam, por ser comum a todos os governos (e no de Bolsonaro não seria diferente): não há unanimidade de pensamento na base de apoio do presidente. Há diferentes correntes de pensamento que impõem seus limites.
Bolsonaro demitiu seu secretário de Cultura, que fazia o jogo do chefe. provocando a chamada “classe artística”, por pressões internas da base. Talvez por ele, Alvim continuaria no cargo, como outros continuaram, mas o limite foi imposto ao presidente. A reação do ministro general Augusto Heleno, elogiando a reação popular ao discurso do agora ex-secretário deixa clara esta pressão. Que os demais boquirrotos, que pensam poder agir como o chefe, aprendam: há limites.
O “caso Alvim” não pode passar ileso. A reconstrução da economia brasileira, que tem ritmo mais lento do que se exaltava, não pode sofrer solavancos por declarações que não se pode chamar de infelizes apenas, por serem absolutamente irresponsáveis, de gente que não está preparada para o exercício do cargo que ocupa. Bolsonaro que se mostra tão corajoso na busca de embates com quem nomeia adversário, precisa agir. E agir é impor regras aos boquirrotos. Regras de silêncio. Ou então fazer aquilo que tem procurado negar que fará: uma limpeza em sua equipe.