PAULO CESAR DE OLIVEIRA

O julgamento de Temer

Redação O Tempo


Publicado em 01 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Esta é uma semana decisiva para o presidente Michel Temer. Mesmo que a votação, no plenário da Câmara dos Deputados, do pedido de abertura de processo contra ele, não seja realizada, ficando para a próxima, o presidente terá um intenso desgaste para acertar os apoios de que necessita e que lhe têm custado caro.

A oposição até que não tem sido um problema na vida dele. A ela não interessa, nesta altura, tirá-lo do cargo. Melhor mantê-lo. Lula e seus aliados sabem, e como sabem, que este não é um bom momento para tentar uma disputa eleitoral. Apesar de as pesquisas lhe serem favoráveis, há o outro lado da moeda: a rejeição apresenta números mais robustos do que a aprovação. Mais: enquanto a aprovação é maior em áreas de pouca densidade de voto, a rejeição cresce justamente na de maior número de eleitores. Melhor mesmo é manter Temer, ou o “fora, Temer”, e contar com os amigos dele para o serviço sujo.

Amigos como Joesley Batista, de tanta confiança que era recebido de madrugada nos porões do palácio, mas que, depois da gravação e da delação, virou “bandido confesso”, sem qualquer caráter. Para Temer e outros políticos, embora com alguns deles venha sendo muito leal. Lealdade que, certamente, tem um preço, já pago ou não.

Joesley, muitos podem achar que tem cara de bobo, fala de bobo, roupa de bobo, mas não é nenhum bobo. De origem humilde, soube transformar um pequeno negócio num gigante mundial, o maior produtor de proteína animal do planeta. Não que não seja possível tornar-se milionário honestamente, mas ele e seu irmão Wesley escolheram o caminho mais curto, aproximando-se dos corruptos da vida pública, sem se preocupar com a coloração partidária.

Soube buscar os corruptos para fazer seus negócios e farejar os vaidosos para negociar sua delação. Conseguiu imunidade e deixou muita gente em maus lençóis, embora a maior parte também vá escapar, como o presidente Temer. Afinal, este é o país da impunidade.

E, por falar em impunidade, de onde mesmo saíram os bilhões que a JBS usou para corromper? Esta é uma pergunta que precisa ser feita com mais firmeza pelo país. Preocupamo-nos apenas com quem recebeu, sem nos perguntar de onde saiu tanto dinheiro. Falam em repasse superior a R$ 1,1 bilhão para quase 2.000 políticos.

Mas por qual razão o grupo JBS daria dinheiro, ou financiaria, como queiram, tanta gente? Joesley conhecia a todos ou recebeu instruções (ordens?) sobre a quem repassar dinheiro? Esse dinheiro era proveniente de onde? Evidentemente não é parcela do lucro do grupo. Cheira mais a percentual de alguma operação realizada com algum ente governamental. Se Joesley repassou R$ 1 bilhão, quanto lucrou nessas operações?

São perguntas cujas respostas podem não significar nada para a política e o Judiciário, mas que despertam enorme curiosidade no leigo. Simplesmente porque a falta de uma resposta deixa no ar um forte cheiro de impunidade.

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