Não, o assunto não pode morrer. A indignação não pode ser sufocada. Precisa ser real, não política apenas. Não mentirosa ou medrosa. Os ousados, os covardes, sim, são violentos, mas covardes não podem prevalecer sobre nosso medo e timidez.
Covardes não são apenas os que se omitem, são também aqueles que negam os fatos, que expõem seu próprio racismo e seu preconceito com teorias conspiratórias, negando realidade que viveram ao longo de suas vidas profissionais. São figuras nefastas à causa da igualdade e da convivência fraterna.
Tão nefastas quanto os que se apropriam da causa para fazer política barata, disseminando o ódio, fingindo que buscam a concórdia. São tão criminosos quanto os que agridem e matam por causa da cor ou da condição social. São criminosos por, ao impor o terror, aumentar e alimentar o ódio, mesmo que latente.
Lutar por uma causa não significa agredir, impor o terror, destruir patrimônio. Lembrem-se de que a cada ação corresponde uma reação em sentido contrário e maior intensidade. A luta precisa e deve continuar, mas de forma civilizada. Uma luta que precisa envolver a igualdade social. A igualdade de oportunidades, pois as diferenças sociais, fruto da diferença de oportunidades econômicas, estimula a revolta, mesmo que latente, e até justifica a marginalidade.
É preciso combater o bom combate com a “violência” da paz, do bom senso, do amor. Cito aqui como exemplo, por conhecer bem o trabalho, o modelo de ação da advogada e professora universitária Kátia Vanessa Pires, de Montes Claros, incansável no combate ao racismo e na busca de convivência pacífica entre as pessoas e no respeito a diferenças.
Não, João Alberto, brutalmente assassinado em Porto Alegre por dois seguranças do Carrefour e diante de 15 testemunhas omissas e covardes, tem que ficar insepulto para nos incomodar. Para mexer com nossos sentimentos e despertar em nós a capacidade de promover e exigir mudanças. Sim, porque há milhares de jões, josés, manés, vivos ou mortos, vítimas desse comportamento hipócrita de negarmos o que sabemos existir no país.
É urgente que todos nós nos tornemos militantes desta luta. Que tenhamos a coragem de assumir, sem falsos moralismos e pieguices, punições mais severas para esse tipo de crimes. Os que praticam crimes de racismo, preconceitos e correlatos não podem continuar sendo punidos de forma branda. Não podem ser acobertados com base nos direitos humanos pelo simples fato de que, ao agredirem alguém, de qualquer forma, por se acharem superior, abriram mão da condição de humano e agiram de forma animalesca.
Atenção, não estou pedindo que se aja contra esse tipo de pessoa com a mesma violência empregada por ela. Proponho apenas punição mais rígida para ser cumprida integralmente, sem benefícios e sem interferências de juízes benevolentes ou simplesmente falsos contestadores.
A luta contra o racismo, o preconceito, a desigualdade, antes de ir para as ruas, precisa ser travada dentro de nós. Mude seu comportamento antes de criticar a postura dos outros. Mudando você, estará inibindo a ação das bestas-feras que se julgam superiores. Não deixem que enterrem o João Alberto. Para que não tenhamos que enterrar outros.