Hoje, 21 de abril, uma das mais importantes datas nacionais, Dia da Inconfidência Mineira, quando reverenciamos Tiradentes, vou tentar esquecer um pouco da política e da economia, temas recorrentes em meus artigos, para homenagear outro ídolo nacional, que soube driblar os preconceitos e os patrulhamentos para se tornar, senão uma unanimidade nacional, uma figura respeitada pelo povo. Falo do Rei Roberto Carlos, que embalou a vida dos jovens de minha geração, separando com maestria a paixão do amor da paixão da política.

No domingo, o ídolo da minha e de várias outros gerações completou 79 anos e reviveu numa live muitas emoções de nossas vidas.

Conheci Roberto Carlos antes da explosão de sua carreira e de sua transformação num mito – mito mesmo – nacional. Estava completando 16 anos e fui curtir a data com alguns amigos no Clube Montes Claros, naquela cidade do Norte de Minas, onde ele se apresentava como crooner. Foi um belo show. Ao terminar sua apresentação, ele foi para a nossa mesa e nela ficou até o dia clarear.

Passei anos sem me encontrar com ele, o que só foi acontecer novamente em uma solenidade onde o já consagrado Rei foi homenageado pelo ex-governador Francelino Pereira. Ele se emocionou muito. Aliás, essa capacidade de se emocionar é um traço forte na personalidade dele, que o faz diferente de muitos outros artistas que, ao se consagrarem, se esquecem de seus fãs e dos que o ajudaram.

Roberto Carlos, asseguram os mais próximos, é fiel às suas amizades e aos companheiros de trabalho. Basta ver sua relação com o maestro Eduardo Lages, que há anos o acompanha.

De Roberto Carlos – de quem não sou amigo pessoal, mas apenas um fã ardoroso –, é importante destacar sua enorme capacidade de sobrevivência num mundo onde se cobra dos artistas posições pessoais como se elas fossem a salvação do mundo.

Pois ele conseguiu construir sua carreira com dignidade, enfrentando o patrulhamento da esquerda que vivia a cobrar dele o engajamento na luta contra a ditadura militar, e da direita feroz ligada aos governos militares, que o acusavam de pertencer à “juventude transviada”– quem não se lembra dessa rotulação – que alienava e desviada a juventude do “bom caminho”.

Roberto Carlos preferiu a arte. Conquistou corações. Viveu emoções. Se teve atuação política, e mesmo social, nunca fez alarde disto. Foi discreto, suave, como sua música. Respeitou sua arte, e dele não se conhece nada que possa desabonar o mito.

Pelo que foi e ainda é, Roberto Carlos poderia ter se aproveitado da admiração popular para obter ganhos pouco éticos, como fizeram e fazem dezenas de outros ditos artistas que se aproveitam da fama efêmera para se tornarem “políticos” e, no exercício do mandato que o povo lhes concedeu – ou, melhor, concedeu ao que eles fingiam ser –, subtraírem a pátria tão distraída.