Paulo César Oliveira

Os erros de Bolsonaro

Necessidade de moderação e habilidade no governo

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 22 de outubro de 2019 | 02:00
 
 
 
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É mais do que sabido que Bolsonaro ganhou as eleições em 2018 para tirar o PT do governo depois de uma lambança nunca vista antes neste país – como diria o quase ex-presidiário Lula. Seus votos não foram do sim a suas propostas, até porque ele não apresentou nenhuma. Foram votos do não ao petismo.

Esperava-se, mesmo que muitos o considerassem despreparado, que Bolsonaro tivesse um mínimo de bom senso ao chegar à Presidência. Nada disso. Ele está governando com embates diários, propositais ou não, tumultuando o trabalho de sua equipe, que tem bons quadros, como os ministros da Economia, da Justiça, da Agricultura, da Infraestrutura, entre outros.

Agora, o desatino político do presidente, parece, chegou ao máximo diante da briga com o partido que o apoiou (o PSL) depois de outros o terem rejeitado. A briga foi de baixo nível. O deputado federal Delegado Waldir fala o que bem entende do presidente. Acabou o respeito, o que líquida com qualquer relação. A deputada paulista Joice Hasselmann, que tanto trabalhou por Bolsonaro desde a primeira hora, foi destituída injustamente da liderança do governo.

O deputado Eduardo Bolsonaro, ao que parece, é o pivô de tudo, porque, além de querer ser embaixador nos EUA, tenta ser líder do partido na Câmara, sendo derrotado pela bancada. Ainda há tempo de uma mudança de rumo do presidente e de seus filhos, caso contrário tudo pode acontecer.

Enquanto eles brigam, o ano está terminando, e a esperada retomada do crescimento não acontece. O número de desempregados permanece elevado, gerando insatisfação popular. Nos bastidores, o que se comenta é que Lula, tão logo deixe a prisão – o que é esperado para qualquer momento –, vai se lançar candidato para enfrentar Bolsonaro em 2022, aproveitando-se do fato de o próprio presidente ter aberto o processo sucessório. Processo que, aliás, já tem o nome do governador de São Paulo, João Doria, colocado em razão da administração que vem realizando, com bons resultados. E Doria, certamente, estará pronto para bater de frente com o petista Lula e com Bolsonaro, se vier mesmo a se candidatar.

Mas essa conversa sobre sucessão, por mais que agrade aos políticos e renda espaço nas redes sociais e na imprensa, não é boa para o Brasil agora. Ela só agrava a crise política, com reflexos inevitáveis na economia. O investidor é avesso a esses escândalos fabricados por pessoas absolutamente despreparadas para a atividade política. E é inegável que o país atravessa uma fase de vazio de lideranças e, pior, de mediocridade nas suas representações.

A prudência manda baixar os flaps e buscar um pouso de segurança. No chão, deve-se buscar uma rearrumação do governo antes de se tentar nova decolagem. Na reorganização não se deve esquecer a máxima da política mineira de que os exaltados servem para ganhar eleição. Já cumpriram seu papel. Governar é com os moderados habilidosos, o que anda faltando para o presidente. E é bom ele saber que, se insistir em voar com a algazarra dos exaltados, mesmo que eles sejam filhos, correrá o risco de jogar o avião, de bico, no solo.

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