Paulo César de Oliveira

Para que a CPI?

Acredito que, infelizmente, nada vai acontecer


Publicado em 02 de novembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Foram seis meses de muito barulho, de muita exposição de seus membros na imprensa, ora tratando com seriedade assuntos realmente sérios, ora tratando questões sérias com molecagem, ora agindo como realmente são, com superficialidade e incompetência. Mas, apesar de tudo, nos seis meses de funcionamento, a CPI conseguiu trazer à tona várias denúncias importantes, envolvendo relações espúrias entre agentes públicos e empresas e empresários e mostrar com quanta desídia, incompetência e despreparo a pandemia foi tratada pelos diferentes níveis de governo no país.

Há muito a ser apurado em profundidade. Há muita podridão a ser remexida. Mas a questão é: alguma coisa vai acontecer? Os assuntos levantados nestes seis meses darão causas a punições? Acredito que, infelizmente, nada vai acontecer. 

Não que as denúncias e até provas não sejam fortes o suficiente para procurar punições aos autores das safadezas e das irresponsabilidades. A questão é a credibilidade das investigações ou, melhor explicando, de quem comandou a CPI. Renan Calheiros, o relator, é a chamada “figurinha carimbada” da política, envolvido em várias denúncias – se verdadeiras ou não, nunca vamos saber, num país que raramente pune seus políticos desonestos, mesmo nas urnas – enquanto o presidente Omar Aziz tem um passado um pouco melhor, embora com manchas. Isto sem descer aos outros membros da CPI. 

Com pouca credibilidade, a CPI enfrenta ainda uma campanha intensa e sórdida de desmoralização comandada por gente ligada ao presidente Bolsonaro – alguns muito próximos até. 

Bom, como se não bastasse a própria qualidade da CPI, ainda será preciso enfrentar a perfeitamente previsível inércia do procurador Augusto Aras, da “cozinha” do presidente Bolsonaro, e a esperteza do deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, que, com certeza, nada fará para dar consequência ao trabalho do CPI do Senado. 

Resumindo, esta CPI será como tantas que já assistimos. E é uma pena que isso aconteça. Quando foi às urnas em 2018, a maioria do eleitorado brasileiro estava ansiando mudanças, cansada de tantas denúncias de corrupção e descaso com a administração pública. Votou em quem acreditava – talvez pela patente militar – ser capaz de mudar o país, acabar com a farra com o dinheiro público. Acreditou que um homem seria capaz de promover a mudança e continuou acreditando em velhas raposas da política brasileira. 

Incapaz de liderar um processo de mudança, a esperança acabou se aliando aos velhos nomes de pessoas e famílias, que, há décadas, comandam a política brasileira, abertamente ou sorrateiramente, e nada mudou – se não tiver piorado, o que certamente pode ter feito com a desilusão que criou. 

O povo, que precisava reagir às velhas práticas, se mostra ainda mais avesso à política e não acredita em punição aos corruptos que se aproveitaram da pandemia para surrupiar impunemente o país.

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