Paulo César de Oliveira

Por que o voto impresso?

Questão agora vai para o plenário da Câmara


Publicado em 10 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
 
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Até agora ninguém entendeu, com clareza, a fixação do presidente no voto impresso, sendo que ele foi eleito por meio do voto eletrônico e conviveu com o sistema nos mais de 20 anos na Câmara, na qual o voto é eletrônico.

O voto eletrônico foi instituído com pioneirismo no Brasil, quando o mineiro Carlos Mário Velloso era presidente do TSE, há 25 anos. De lá pra cá, não se ouviu mais em falar “marmitas” nas eleições nem na compra de votos, especialmente no interior do país. Desde então, famílias dos chamados “coronéis da política” perderam prestígio e eleições, pois os eleitores se sentiram protegidos pela máquina e atiraram fora o cabresto e votaram com liberdade. As eleições passaram a representar de fato o desejo popular, mesmo que se possa argumentar que razões outras possam pesar no resultado de uma eleição.

Bolsonaro, estranhamente, mesmo tendo vencido as eleições sem contestações anteriores, passou a se posicionar contra o sistema de votação e apuração, seguindo os passos – assim como os carneirinhos seguem o cão-guia – do seu ídolo Donald Trump, que buscou um golpe contra o sistema eleitoral americano ao sentir que seria derrotado. Chegou a provocar arruaças com o uso dos fanáticos domesticados, mas foi derrotado e começa a pagar pelos problemas que criou. Lá as instituições funcionam.

Aqui Bolsonaro abraçou cedo o discurso da fraude como forma de desviar a atenção das denúncias de malfeitos contra seus filhos. Sentindo que seu prestígio vem caindo e que a corrupção em seu governo tem sido descoberta, mesmo que até agora sem envolver dolosamente o seu nome, embora haja sinais de culpa, agarrou-se a esse factoide de que o voto eletrônico é fraudado. Tem usado esse argumento para ameaçar o Brasil de um golpe, com a estranha conivência de instituições que têm o dever constitucional de proteger o país de aventuras contra a ordem legal.

Vive anunciando que apresentará provas consistentes de fraudes e nada mostra, sem se importar com o ridículo a que se expõe, porque não existem essas provas. Bolsonaro insiste em acusar os ministros do STF e do TSE de impor suas vontades, mantendo o sistema eletrônico. Insiste que a mudança é desejo da população, esquecendo-se de que a proposta de mudança foi fragorosamente derrotada na comissão especial da Câmara. Lembrando que, na democracia, é o Legislativo que representa a vontade popular.

O presidente da Câmara, Artur Lira, aliado de Bolsonaro, não quis, mesmo assim, encerrar a discussão sobre o assunto, mantendo o voto eletrônico e mandando a votação para o plenário, no qual, dizem, a derrota será proporcionalmente ainda maior. E a votação em plenário é eletrônica.

Bolsonaro, mais uma vez, vai se perdendo pelas bobagens que fala e pelos ataques que vem disparando a outros Poderes. Será que Bolsonaro quer mesmo aplicar um golpe? Com que apoio pensa contar?

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, eleito com apoio de Bolsonaro, saiu em defesa do STF e da democracia.

Aliás, desde que Pacheco teve seu nome colocado entre os presidenciáveis, perdeu o apoio da família Bolsonaro.

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