O Brasil tem muito a mudar. Aqui o futuro atrasou um pouco e, por isso, precisamos apressar algumas mudanças. Nos atemos muito às questões econômicas – claro, assunto importante para todos nós – e deixamos temas do dia a dia sem solução, abrindo caminho para os espertalhões que radicalizam sobre eles. 

A sociedade precisa reagir, participar mais, tomar para si os debates e cobrar de seus ditos representantes posicionamentos claros e coerentes. Nos últimos meses, temos assistido a um clima de beligerância entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – este último alvo a ser atingido – que não interessa ao país. Interessa apenas aos radicais, que tentam fazer da população – omissa, diga-se de passagem – instrumento de manobras. 

Enquanto a sociedade se mantiver passiva, esse clima permanecerá. 
Há temas que, mais do que outros, são de interesse direto da sociedade pois mexem com seus conceitos morais. Aborto e drogas, só para mencionar temas mais populares, são questões que precisam ter solução que venha direto da sociedade. Infelizmente, o Legislativo não tem se mostrado capaz de discutir e decidir pela sociedade. Tanto é que os temas estão hoje na pauta do Judiciário, que, provocado, terá que discutir e decidir pautas que seriam mais da alçada da sociedade e seus ditos representantes. 

Por analisar temas assim, o Judiciário tem sido acusado de interferência na competência de outros Poderes. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso, com sua reconhecida sensatez, tem procurado mostrar que a ação do Judiciário se sustenta no detalhismo de nossa Constituição, que acaba levando à apreciação do Judiciário – criando um falso ativismo jurídico – temas que deveriam ser discutidos pela sociedade.

Está certo o ministro, que, com sua formação democrática e seu conhecimento jurídico, defende que, antes de um julgamento no Judiciário, alguns temas – como os dois anteriormente citados – sejam submetidos ao debate da população para que ela decida o que deseja. 

E é preciso de coragem e verdadeiro espírito democrático, como o demonstrado pelo ministro, para levar alguns temas à discussão aberta da sociedade. Os fóruns populares são mais democráticos que os legislativos.

Estamos a poucos meses das eleições municipais, talvez a disputa que mais mobilize o eleitor, por tratar de assuntos que dizem respeito aos seus interesses mais diretos. Este é um bom momento para colocar em discussão outros temas – só como exemplo, aborto, descriminalização de drogas e endurecimento do combate à violência com o fim de privilégios –, sem nos esquecer dos temas mais locais. 

É assim que vamos preparar e tornar transparentes os candidatos comprometidos com soluções de temas mais complexos e de interesse social. Acho que, assim, será possível melhorar bem o nível de nossos representantes, no Executivo e no Legislativo.

Paulo César de Oliveira é jornalista e empresário