Nunca é demais repetir: em política não se comete ato inútil. Esta é uma máxima dos velhos políticos mineiros que não vem sendo respeitada por quem tem a obrigação de evitar polêmicas vazias, que não levam a lugar algum a não ser, claro, ao adiamento de decisões.

Fica difícil até acreditar que os “atos inúteis” que tanto têm afetado o país sejam frutos apenas da ingenuidade política ou do voluntarismo de quem os pratica.

Há cheiro de que, na realidade, são atos estratégicos, que visam levar a um confronto de interesses diretos de grupos de poder. Não se turva a água se se deseja beber dela. Não se tumultua a democracia se se pensa viver nela.

O país tem problemas demais a resolver, desempregados demais, desesperados em busca de renda para sobreviver, para ficar assistindo ao triste espetáculo de bate-boca entre políticos que, despreparados para o convívio democrático, usam a tática de desmoralização dos adversários escolhidos na conveniência do tema, sempre no anonimato das redes sociais, para esconderem seus próprios malfeitos. Onde vamos parar com tal comportamento, não sabemos.

Já assistimos o ressurgimento de algumas vozes sombrias saudosas do autoritarismo. Pior, já é possível perceber pelas janelas políticas algumas divergências internas nos governos – não apenas no federal – que estão desestruturando equipes e projetos. Um sinal disso foi a fala do presidente Bolsonaro de que o ministro Paulo Guedes ficará no governo até o último dia. Uma colocação absolutamente desnecessária, mas muito utilizada em política quando se deseja avisar sobre mudanças.

Há quem diga até que as falas desastradas do ministro nos últimos tempos seriam um aviso seu de que pensa em sair. Cria dificuldades com suas falas para inviabilizar sua permanência. Uma saída estratégica.

O Brasil não merece nem suporta esses solavancos políticos. Não podemos assistir à radicalização como forma de governar. O presidente e alguns governadores, que o apoiam e que a ele fazem oposição, estão seguindo essa estratégia de palanque.

Senhores, governar é buscar convergências, é conviver com desiguais. Buscar a radicalização, que é o caminho mais curto para a fanatização de consequências imprevisíveis, é tão desaconselhável como buscar a unanimidade, que, além de burra, é absolutamente impossível.

Precisamos do diálogo. Do entendimento, não da força. Temos experiências desagradáveis nesse campo.

Estamos – aproveitando outra máxima da política – começando o ano no Brasil. O Carnaval está acabando, e vamos retomar nossas atividades normais, especialmente na política. Bom que estamos recomeçando na Quaresma, época de meditação, de paz. É exatamente disso que estamos precisando. Paz, entendimento, busca de diálogo. Não do monólogo dos grupos, cada um tentando impor ao outro suas convicções.

Num mundo globalizado, não cabe mais o radicalismo ideológico. Se ficarmos nessa discussão, não vamos avançar. A velocidade do desenvolvimento tecnológico não dá a ninguém o direito de ficar discutindo se alguém é comunista ou fascista. Isso acabou, e a discussão só interessa a quem não tem o que dizer.