O embate dos Bolsonaros e de alguns de seus seguidores com o comando do PSL – sigla que acolheu o então pré-candidato à Presidência e assegurou seu direito de disputar as eleições – mostra o quão frágeis são as relações dos políticos com os partidos. Teoricamente, um partido político é uma organização que congrega pessoas com a mesma ideologia, mesmo que de forma tênue, que se propõem a buscar o poder para, no exercício dos mandatos, tentar executar programas e projetos em benefício do país e do povo, na linha de suas convicções.
Bom, deveria, mas no Brasil não é assim. Entre nós, partidos têm funções meramente cartoriais e se prestam apenas para assegurar as condições legais para alguém se candidatar. Isso quando o caso é de candidatura, pois na maioria das vezes a filiação tem o objetivo apenas de garantir ao filiado, mais à frente, tentar alguma benesse caso a legenda atinja o poder. Aí, ser filiado pode significar um passaporte para um cargo ou qualquer outro benefício.
Como filiações são por conveniência, não por convicções, troca-se de partido como se troca de camisa. Que o diga o presidente Bolsonaro, que, caso deixe mesmo o PSL para fundar outra legenda ou se filiar a alguma existente, estará fazendo a sua nona filiação em seus menos de 30 anos de carreira política. Se este é o comportamento de alguém que chega à Presidência da República, imagine como agem os demais.
Não há, com raras exceções, qualquer comprometimento ideológico de filiados. A esmagadora maioria nem mesmo conhece o estatuto do partido. É tal a mixórdia que foram muitos, mas muitos mesmo, os eleitores que, na temporada de filiação, deixaram o PT e assinaram ficha do PSL. Não podemos continuar assim. É preciso mais seriedade. Mais comprometimento com programas de governo que, em tese, são apresentados pelos partidos.
Deveríamos votar em propostas, não em pessoas. E propostas são defendidas por grupos que, na política, se agrupam em partidos. Essa falta de comprometimento gera o que talvez seja o nosso maior problema: o clientelismo político que resulta no toma lá dá cá para a formação da base de apoio. Se quisermos mudar o Brasil, precisamos encarar o desafio de alterar essa realidade. Uma reforma política – coisa de que falamos há décadas – é urgente. Ou fazemos isso, ou continuaremos sendo como somos.
O problema é como fazer essa mudança. A esmagadora maioria dos que legalmente podem fazê-la está comprometida e é fruto da realidade atual. É fruto dela. Dificilmente estaria eleita se nossa realidade político-eleitoral fosse outra, baseada em convicções e projetos. Convenhamos, ninguém abriria mão do que o beneficia – e a seus apaniguados – em nome de um patriotismo que hoje parece puro romantismo. Apesar de tudo, é preciso mudar, mesmo que devagar. Quem sabe quebrando o monopólio dos partidos na apresentação de candidaturas. O STF está para julgar o direito de lançamento de candidaturas avulsas. Não me parece a solução, mas pode ser o início de uma mudança. Como está, não dá para ficar.