Paulo César de Oliveira

Um presidente desnorteado

Enquanto isso, a pandemia segue sem controle


Publicado em 29 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Nestes meus quase 60 anos acompanhando a cena política, assisti à passagem pelo Poder de vários presidentes da República. Desde Jânio Quadros – que na sua loucura renunciou, achando que o Congresso iria pedir para que ele ficasse –, nunca tinha visto um presidente ficar tão destemperado quanto Jair Bolsonaro que, à semelhança de Jânio, elegeu-se para mudar a prática política e acabar com a corrupção.

Em dois anos nada aconteceu. As velhas práticas políticas do toma lá dá cá permanecem e, ao que parece, com muitas chances de ganharem mais força, na exata medida em que o presidente vai perdendo força junto à população.

Bolsonaro, em suas alucinações políticas, se considerava inatingível e protegido pelo “seu Exército”. Mas, nos últimos dias, vendo manifestações pelo Brasil contrárias a ele – numa repetição do que aconteceu com Collor e Dilma – e a CPI da Pandemia do Senado avançando – por mais que eu achasse que não daria em nada – apertando o cerco, Bolsonaro, para usar um termo da moda, surtou.

Para aumentar sua insegurança, as últimas declarações de seu vice, General Mourão, queixando-se de estar sendo excluído de reuniões governamentais, evidenciam um racha nas Forças Armadas. E isso o fragiliza politicamente, aumentando seu descontrole.

O destempero e desrespeito de Bolsonaro com as jornalistas é inadmissível. O palavreado do presidente contra seus adversários desnuda seu despreparo emocional. Como venho dizendo já há algum tempo, o estilo do presidente é do enfrentamento, e é o que vem fazendo com a imprensa e com alguns adversários desde a primeira hora. Radicalizar para fanatizar seus apoiadores.

Não foram poucas as vezes em que Bolsonaro defendeu os erros e omissões de seu governo, como na condução da crise da pandemia, assegurando a honestidade de sua equipe. O envolvimento do líder do governo, Ricardo Barros, no escândalo da vacina Covaxin é no linguajar popular o “batom na cueca” que Bolsonaro terá que explicar. Outros nomes próximos ao presidente, especula-se em Brasília, ainda vão surgir ao longo das investigações da CPI do Senado que mesmo tendo entre seus membros notórios “fichas-sujas”, vai ganhando apoio político e popular, na medida em que vai desvendando os atos de corrupção de um governo que foi eleito com o discurso de quem não rouba nem deixa roubar.

E, enquanto se desmascara o governo, que terá muitas dificuldades para recuperar sua credibilidade, a pandemia segue sem controle e, muito em breve chegaremos às 600 mil mortes. Vidas perdidas no mar de nossa irresponsabilidade política. Até quando seremos assim? Até quando vamos assistir ao desvio de recursos que deveriam ser usados para salvar vidas. Até quando vamos tirar máscaras de crianças para provarmos que estamos certos em nossa mediocridade negativista? Até quando seremos passivos?

Enquanto não reagirmos em defesa de mudanças, não de nomes apenas, mas de postura, chamo a atenção para que usem máscaras, álcool em gel e evitem aglomerações. São formas de salvar vidas, a sua e dos outros.

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