PAULO CESAR DE OLIVEIRA

Uma sucessão inusitada

Está na hora de o próximo Congresso acabar com a figura do vice


Publicado em 31 de julho de 2018 | 03:00
 
 
 
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Como venho dizendo e escrevendo já há alguns dias, nunca vi uma véspera de eleição como a deste ano. A 37 dias da disputa, no dia 7 de outubro, os candidatos à Presidência da República – os chamados “principais” – ainda não têm seus candidatos a vice, e, aqui entre nós, melhor seria, como defendem alguns, não existir essa figura. 

É menos um a desejar mal ao eleito: em Minas, dizem os políticos, vice é, quase sempre, um conspirador. Quando Tancredo adoeceu, às vésperas de sua posse, Sarney e sua turma, apesar do ar compungido, não tinham dúvida de que queriam mesmo que Tancredo morresse. Afinal, ganharam um mandato presidencial que de outra forma não teriam. Depois, com o impeachment de Collor, o então vice Itamar Franco torcia pela derrocada do presidente para que ele e seu grupo assumissem o poder. Recentemente, foram Michel Temer e sua turma que ajudaram o Congresso a “impichar” Dilma Rousseff. 

O pior é que estamos passando por dois governos ruins, sendo que um está sendo comandado pelo vice. Aí eu pergunto: para quê vice? Está na hora de o próximo governo e o Congresso acabarem com essa figura. Em Minas, na história recente, o vice de Aécio, em seu primeiro mandato, ficou todo o tempo fazendo de tudo para atrapalhar. No governo atual, o vice do governador, o ex-ministro Toninho Andrade, rompeu com ele no primeiro ano de governo e de lá para cá só fez atazanar a vida de Fernando Pimentel.

Aliás, até agora Pimentel não conseguiu um vice. A decisão de Lula de mandar Dilma transferir seu domicílio eleitoral para Minas e disputar uma vaga no Senado prejudicou os entendimentos do governador com seu parceiro preferencial, o MDB. 

Ao contrário de Pimentel, seu adversário, o tucano Antonio Anastasia, sem influências de caciques da legenda (afinal, Aécio foi isolado), tratou de escolher logo um companheiro de chapa, optando por Marcos Montes, do PSD. Não conseguiu, porém, definir as vagas para o Senado, que guarda para oferecer, dizem, ao MDB.

O curioso é que a “praga do vice” não se restringe aos Estados – vários deles padecem do mesmo problema, atingindo também as chapas presidenciais. Os três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, Bolsonaro, Ciro e Alckmin, ainda estão com as conversações abertas, mas, apesar dos prazos da legislação eleitoral, não parecem estar encaminhando uma solução.

Deles, o que parece em maior dificuldade é Bolsonaro, pois só tem recebido “nãos” de todos a quem oferece a vaga. Ciro e Alckmin, parece, se desvencilharam do fantasma de Josué Alencar, a quem incensavam como o melhor vice possível. O próprio Alencar tratou de desfazer o equívoco, afirmando que politicamente nada representa, embora financeiramente fosse dar uma bela ajuda ao companheiro de chapa. De candidato sem vice poderíamos falar também de Lula, que o PT insiste em dizer que vai lançar. Mas, por enquanto, não dá para falar em candidato sem vice sem correr o risco de ser um vice sem candidato.

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