Fato apontado por vários estudiosos é a ansiedade que a internet e as redes sociais têm fomentado na população. Acostumadas com um fluxo ininterrupto de novidades em seus dispositivos digitais, as pessoas passam a esperar que o mundo real também funcione com tal ritmo acelerado.

Esta pode ser uma explicação para o destaque desproporcional que as pesquisas eleitorais ganharam em 2022. Em surto coletivo de ansiedade, já se tem por dado que Lula é presidente e Zema conseguiu se reeleger – ambos em primeiro turno. Os discursos predominantes, seguindo essa linha, buscam forçar os demais oponentes a desistir de uma disputa que não teria futuro – está aí uma boa dose de oportunismo, misturada ao distúrbio social da ansiedade.

Em relação a Romeu Zema, o caso é particularmente sensível. Hoje liderando as pesquisas de intenções de voto, Zema tem junto a si um eleitorado que confluiu para a direita a partir de diferentes origens e com motivações distintas. Pode mesmo vir a se manter junto ao atual governador, mas esse resultado não depende de sua atuação política – e menos ainda da ação de seu partido.

Inicialmente, distingue-se o grupo de matriz religiosa, que vê na direita política uma estratégia para defesa de valores sociais e comportamentais. Combater a esquerda e suas pautas progressistas é a meta, sendo que a liderança de Jair Bolsonaro nesse grupo é nítida. Zema, portanto, é um estranho nesse ninho, já que nunca reproduziu esse discurso específico. Um emissário mais legítimo de Bolsonaro – como o senador Carlos Viana – agregaria facilmente tais eleitores, que representam cerca de 15% do total de votantes.

Outro grupo político que hoje declara apoio a Zema, sem, contudo, se identificar com o governador, é o da classe média centrista dos grandes centros urbanos. Historicamente, tais eleitores tendiam para o campo do PSDB, sobretudo devido ao discurso técnico e nada ideologizado das principais lideranças desse partido. A volta de um candidato tucano, especialmente de alguém experiente na gestão pública, como o ex-secretário Marcus Pestana, faz muito sentido para tal fatia da classe média urbana. Sem dúvida, há muito mais identificação com esse perfil do que com a trajetória incomum de Zema e com os resultados magros de sua gestão.

Resta a Zema, como seu eleitorado relativamente “cativo”, um grupo heterogêneo composto por setores ultraliberais do empresariado e por extratos avulsos da população – que se identificaram com a simpatia e o inegável carisma interiorano do governador a partir de suas performances nas redes sociais.

Essa leitura talvez explique a enorme pressão que vem sendo exercida sobre Viana e Pestana, para que desistam de suas candidaturas: afinal, Zema e as pesquisas eleitorais já fazem a ávida contabilidade das eventuais heranças que podem vir dessas duas lideranças políticas. Nesse sentido, uma análise orgânica indica que, com persistência e uma dose de sorte, tanto Viana quanto Pestana podem vir a arrebatar a vaga de Zema no segundo turno.