Estratégia política

Lula segue sendo Lula

Dois episódios recentes da atuação do presidente Lula chamam a atenção pela importância política que tiveram e por indicarem que nada mudou na forma de pensar e agir do líder petista.

Por Paulo Diniz
Publicado em 06 de fevereiro de 2024 | 07:00
 
 
 
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Dois episódios recentes da atuação do presidente Lula chamam a atenção pela importância política que tiveram e, ao mesmo tempo, por indicarem que nada mudou na forma de pensar e agir do líder petista.
Nas primeiras semanas do ano, Lula não apenas referendou Marta Suplicy como vice de Guilherme Boulos na disputa pela prefeitura de São Paulo, como também patrocinou a volta de Marta ao PT. Para alguns, esse movimento pareceu arrojado – dada a forma como Marta Suplicy havia deixado o PT, no ponto mais baixo da crise pela qual passou o partido –, mas essa escolha tem a marca clássica da forma como Lula enxerga a política.

Para o presidente, a submissão é a maior qualidade que um aliado pode ter. Por isso, uma velha companheira como Marta Suplicy tenderia a ser fiel à liderança de Lula, e isso justificaria toda a alavancagem política que ela agora vem recebendo. Não apenas Marta seria confiável, como também seria estratégica para manter Guilherme Boulos – o cabeça de chapa – sob intensa vigilância na eventualidade de uma vitória da esquerda nas urnas paulistanas em outubro próximo.

Essa é a mesma linha de raciocínio que fez com que Lula apoiasse – no auge de sua popularidade – a candidatura de Dilma Rousseff ao comando do país em 2010. Petistas de grande experiência administrativa e eleitoral, como o então governador baiano Jaques Wagner, foram deixados de lado para que Lula patrocinasse a ascensão da novata Dilma – uma equação política que garantiria a submissão de Dilma a Lula, em tese. Na prática, Dilma teve uma atuação independente, mas, ainda assim, Lula não apoiou outra liderança do partido em 2014 – muito provavelmente, pelo temor de ser ofuscado por outro petista com habilidade política e carisma eleitoral.

De volta a 2024, é interessante perceber como Lula enxerga em Guilherme Boulos potencial para superá-lo como a principal liderança política e eleitoral da esquerda no Brasil. Por isso Lula se esforçou tanto para buscar um elemento de confiança que, compondo a chapa com Boulos, pudesse reduzir o risco de uma futura traição.

O outro fato recente, de grande importância política, foi o acordo firmado por Lula com o governador paulista, Tarcísio de Freitas, para a construção em parceria do túnel subaquático ligando as cidades de Santos e Guarujá. Orçado em R$ 5,8 bilhões e custeado em partes iguais pelo governo federal e pelo governo paulista, o túnel representa o tradicional hábito de Lula de nunca recusar uma parceria quando essa for possível.

Mais ainda, a ideia de que os fartos cofres federais são capazes de criar as amizades mais inusitadas também está presente nesse evento, que aproximou Lula do governador que era tido por muitos como “sucessor natural” de Jair Bolsonaro. Vale lembrar a aliança, em 2012, entre Lula e Paulo Maluf – outro político paulista que priorizava as obras de infraestrutura mais do que qualquer outra política pública.
Mesmo previsível em seus meios e fins políticos, Lula ainda colhe excelentes frutos em matéria de governabilidade.

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