PAULO PAIVA

A guerra do fim do mundo

Oficialmente foi dada a partida para a batalha final que terá seu primeiro embate nas urnas, em outubro

Por Paulo Paiva
Publicado em 19 de agosto de 2022 | 05:00
 
 
 
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Nesta semana começou, enfim, a guerra do fim do mundo. Oficialmente foi dada a partida para a batalha final que terá seu primeiro embate nas urnas, em outubro. Por suas características, a eleição deste ano não se assemelha a nenhuma outra. Dois fatos a tornam singular.

O primeiro fato é o confronto entre dois candidatos que já se elegeram presidentes. Lula disputou a Presidência cinco vezes, com sucesso em 2002 e em 2006, e, ademais, elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. Bolsonaro, atual presidente, ganhou em 2018. Nessa ocasião, Lula não foi seu adversário porque estava na prisão.

É a primeira vez na história do Brasil que dois presidentes se defrontam, cara a cara. Mas não são dois presidentes quaisquer, são dois situados em polos opostos no espectro ideológico. De um lado, Bolsonaro, incumbente, ultraconservador, defende o armamento da população civil e lidera o movimento direitista mais extremado do país; dissemina o ódio, estimula a violência e ataca a democracia no seu pilar fundamental, que é o processo eleitoral. Bolsonaro põe em dúvida a lisura do Poder Judiciário e a inviolabilidade das urnas eletrônicas. De outro lado, Lula, desafiante, líder sindical, acende as esperanças dos movimentos sociais, das organizações corporativistas e das organizações esquerdistas; quer voltar ao Palácio do Planalto para exibir-se absolvido pelo povo.

Os dois têm em comum um estilo populista-personalista que prescinde de estrutura partidária para se comunicar com seus simpatizantes. Bolsonaro, despertando o sentimento direitista que estava adormecido no país, e Lula, mobilizando os setores populares e as esquerdas, caminham para o confronto nas urnas.
O segundo fato foi a posse do juiz da eleição, ministro Alexandre de Moraes, ocorrida no mesmo dia do início da campanha eleitoral, a 45 dias da data fatal. Fato que não é mera coincidência. A solene cerimônia da sessão de posse no Tribunal Superior Eleitoral demonstrou a força simbólica que se pretendeu dar à investidura de Moraes no cargo mais importante do processo eleitoral e à defesa do Poder Judiciário.

Na presença do presidente da República, candidato à reeleição, e de outros postulantes, dos presidentes dos outros Poderes, de quatro ex-presidentes do Brasil e de 22 governadores, Moraes sustentou que “somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia. Com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, pontuando sua firme posição contrária às acusações, não comprovadas, de Bolsonaro sobre a violabilidade das urnas eletrônicas. Esta, sim, será a verdadeira guerra do fim do mundo.

Encerro com a pergunta que me intriga: dos três personagens, quem representa, nessa guerra, o papel de Antônio Conselheiro?

 

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