Economia

Crescer é preciso

Crescimento econômico não é um fenômeno natural, tampouco destino. Ao contrário, ele depende das escolhas dos agentes econômicos – investidores e consumidores

Por Paulo Paiva
Publicado em 12 de janeiro de 2024 | 05:00
 
 
 
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No limiar do novo ano, as esperanças se renovam. Uns anseiam por oportunidades para investir, outros, por renda para poder consumir e poupar, todos por vida melhor. Porém, se a economia não crescer, os sonhos continuarão apenas sonhos.

Crescimento econômico não é um fenômeno natural, tampouco destino. Ao contrário, ele depende das escolhas dos agentes econômicos – investidores e consumidores – e, também, das instituições e dos costumes do país – leis, normas, comportamento do Estado, cultura etc. – que constituem o ambiente de negócios.

Ademais, o crescimento sustentado resulta do aumento contínuo da produtividade. Sem este, o PIB não cresce. A sequência lógica virtuosa é inovação-produtividade-crescimento.

As evidências recentes têm mostrado que o Brasil cresce muito pouco, porque sua produtividade está praticamente estagnada. Uns atribuem como causa a baixa qualificação da mão de obra; outros, a falta de desenvolvimento de pesquisas e inovação; e outros, ainda, o ambiente de negócios que não favorece a eficiência da economia. Todos têm sua dose de razão, mas a questão é mais complexa.

Mesmo nos países industrializados, como nos Estados Unidos, a produtividade agregada está crescendo lentamente e, ainda, com diferenças acentuadas entre os setores de “tradables” (produtos comercializados no mercado internacional, como commodities) e “non-tradables” (produtos comercializados apenas no mercado interno, como grande parte dos serviços). Por exemplo, neste século (até 2021), a produtividade do trabalho dos “tradables” dobrou, enquanto a dos “non-tradables” cresceu cerca de 5%, segundo Brown, El-Erian e Spence (Permacrisis: A Plan to Fix a Fractured World).

Para comparação, no Brasil, os dados, que mais se aproximam aos americanos, seriam os da FGV organizados por setores de produção. No mesmo período, a produtividade da agropecuária cresceu 2,5 vezes, enquanto dos serviços, 0,25%, e a da indústria caiu 1%, próximo a indicar que, aqui, a produtividade vem crescendo somente no setor de maior inserção no mercado internacional. Outra semelhança é que, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o aumento da produtividade no setor de “tradables” acelerou-se após a crise financeira de 2008-2009, talvez sugerindo que movimentos estruturais na economia global estão afetando o desempenho de economias nacionais.

Essas questões nos ensinam que a abertura comercial estimula o aumento da produtividade; por consequência, medidas protecionistas como barreiras à competição e oneração de produtos importados intensivos em tecnologia, como as baixadas no apagar das luzes de 2023, são prejudiciais ao crescimento da economia.

O tempo urge e exige análises e respostas rápidas do governo e das lideranças políticas e empresariais. Sem crescimento sustentado, não haverá inclusão social nem descarbonização da economia. Crescer é preciso.

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