Daqui a 96 horas, o destino do Brasil começará a ser traçado. Conforme indicam as pesquisas, a disputa foi simbolizada por uma mão cerrada, com os dedos polegar e indicador fazendo um ângulo de 90°. A mão de Haddad, com o polegar na horizontal e o indicador na vertical, esbraveja por “Lula livre”, em afronta às decisões do Judiciário e à opinião majoritária dos brasileiros; a mão de Bolsonaro, em posição inversa, como uma arma de fogo, intimida as instituições democráticas. São os candidatos que lideram ambas as intenções de votos e de rejeição.
O ódio, a mentira, a farsa e a desídia que prevaleceram nesses últimos meses tenderão a se intensificar nas horas finais. Guardei meu otimismo na geladeira, para quando a primavera voltar. O tempo agora está sombrio.
Na campanha, foram destruídas as evidências de corrupção, cujo combate levaria ao renascer de um novo país, mais ético, e de políticos comprometidos com o bem-estar da população e com a responsabilidade que o voto popular lhes confere.
Na campanha foram abandonados os compromissos com a reforma da economia para retomar o crescimento e oferecer oportunidades aos milhares de brasileiros, hoje excluídos do acesso a alguma atividade que lhes permita sonhar com um futuro rosa.
Na campanha não vingaram ideias, propostas ou ações que poderiam fertilizar os sonhos de um futuro de concórdia, prosperidade e paz. Prevaleceu a violência.
O objetivo primeiro de Haddad é resgatar a liberdade de Lula, o verdadeiro candidato oculto, para retomar o poder perdido no impeachment de Dilma e, assim, derrotar o que chamam de “golpe”. Não será uma simples vitória eleitoral, mas o retorno triunfal do PT ao comando do país e suas consequências. A eleição é apenas mais uma tentativa para conseguir a impunidade dos políticos cujos meios justificam seus fins.
A arma principal de Bolsonaro está apontada para o extermínio da era vermelha. Encarnou o antilulismo. A cisão na sociedade é uma oportunidade para fazer prosperar o voluntarismo de uma candidatura populista, construída sobre os pilares do medo, da insegurança e de valores conservadores.
O futuro do Brasil está sendo decidido nesse vil confronto do “nós contra eles”, alimentado pelo ódio e pela intolerância.
A campanha, até agora exitosa, do PT é comandada por Lula de dentro da prisão. Fato nunca antes visto na história deste país. A oposição ao prisioneiro cresceu nas mãos de um militar reformado que promete a ordem por meio do uso amplo e irrestrito das armas; que não admite a diversidade e contesta as instituições. Triste Brasil que sofre inerte o desenrolar de estratégias eleitorais idealizadas, de um lado, em um cárcere e, de outro, na experiência dos quartéis.
Nos céus de um país triste, perplexo e atônito, que assiste à guerra ensandecida e sem perspectivas de final feliz, nuvens negras se formam ameaçando, após a apuração dos votos, uma tempestade que despejará sobre seu solo as rosas atômicas do rancor.
Aos eleitores sugiro que, antes de votarem, pensem no poema de Vinicius de Moraes, escrito em 1954. “Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem nas meninas cegas inexatas/ Pensem nas mulheres rotas alteradas/ Pensem nas feridas como rosas cálidas/ Mas oh não se esqueçam da rosa da rosa/ Da rosa de Hiroxima/ A rosa hereditária/ A rosa radioativa, estúpida e inválida, a rosa com cirrose/ A antirrosa atômica/ Sem cor sem perfume/ Sem rosa sem nada”.
Só vocês, eleitores, podem evitar que as antirrosas cultivadas pelo ódio político caiam sobre o Brasil.