A foto da semana é de Dida Sampaio, do “Estadão”, mostrando o presidente capitão Bolsonaro, com sorriso estampado no rosto, levantando uma latinha de leite condensado como se fosse uma taça. Foto que nos traz à memória e, certamente envergonharia, os capitães da seleção brasileira de futebol, Bellini, Mauro Ramos, Carlos Alberto, Dunga e Cafu, campeões mundiais.
Na foto o capitão presidente parece estar comemorando uma grande conquista do governo. Seriam os gastos com compras de leite condensado, que no ano da pandemia chegaram a R$ 15 milhões, cinco vezes mais do que foi destinado ao Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) para fazer o monitoramento, via satélite, em todo o território nacional, incluindo Amazônia e Pantanal? Ou os gastos do governo com chicletes?
Se a vida é doce nos palácios de Brasília, ela é amarga para a população que vive na região Amazônica, amedrontada com a contaminação pela Covid-19, pelas novas cepas do vírus e pelas mortes por asfixia na falta de oxigênio. Os governantes consomem leite condensado em abundância e oferecem cloroquina para a população amenizar os efeitos da pandemia.
Ainda bem que vimos também fotos dos profissionais da saúde celebrando a imunização. Embora em pequenos lotes, a vacinação começou trazendo esperanças para um povo em pânico com a expansão rápida da contaminação e do aumento de mortes. Mas quantas pessoas serão vacinadas neste ano? Há ainda muita incerteza. Envolvido por picuinhas políticas, negação da vacina e falsas promessas, o governo demorou a firmar contratos com laboratórios produtores de imunizantes. E agora o Butantan ameaça vender 54 milhões de doses para o exterior. Que horror!
A vida é amarga para milhares de pessoas que não têm mais acesso à renda, por causa dos efeitos das medidas de isolamento social. Principalmente o grande segmento de desempregados, prestadores de pequenos serviços, microempreendedores, vendedores ambulantes, jovens e mulheres, que já penavam para sobreviver. Para esses brasileiros, sem a ajuda emergencial, a vacina tem importância capital, que é permitir, ao menos, o retorno de suas atividades.
Mas as incertezas são muitas. Se há esperança na eficácia da vacinação, há o receio sobre a capacidade do país para obter doses suficientes na confusa distribuição das vacinas e também sobre o recrudescimento da contaminação e do aparecimento de novas variantes do vírus.
Até quando a pandemia vai permanecer ameaçando a vida das pessoas e paralisando a economia? O PIB, que antes da pandemia já vinha se arrastando na lentidão de 1% ao ano, poderá continuar estagnado, enquanto não houver segurança de que a vacinação será ampla e rápida e o presidente zombeteiro continuar comemorando conquistas supérfluas.
Para um país feliz, leite condensado, chicletes e cloroquina para todos.