No final das férias de julho, que contribuíram para a calmaria no cenário econômico, o Banco Central iniciou novo movimento de cortes na Selic, reduzindo-a em 0,50 ponto percentual, para seu valor histórico mais baixo (6,0%). 

Conforme a ata do Copom, divulgada nesta semana, o Banco Central apoiou sua decisão na lenta recuperação da economia e nas expectativas de inflação ainda abaixo do centro da meta para este e o próximo ano. Reconheceu também a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara e antecipou cortes futuros.

No âmbito externo, pesou o cenário de baixo crescimento, preços mais altos dos ativos e inflação baixa. Um fato incomum foi que, simultaneamente, o Federal Reserve Bank (Fed) dos Estados Unidos também cortou lá a taxa básica de juros, motivado pela perda de momentum daquela economia.

A continuação da taxa Selic em níveis baixos, cujo valor real situa-se em torno de 2,0%, afeta positivamente a política fiscal ao reduzir o custo de carregamento da dívida pública e poderia dar um impulso maior ao lento processo de recuperação da economia por meio do estímulo ao consumo das famílias, principal canal disponível para o aquecimento da demanda.

No entanto, o impacto maior sobre a demanda depende dos níveis das taxas de juros cobradas na ponta às empresas e aos consumidores. O alto custo do financiamento no Brasil é o maior empecilho a evitar a eficácia da política monetária para o aquecimento da demanda. O spread bancário aqui é o segundo mais alto do mundo, atrás apenas de Madagascar.

Os principais componentes do spread nos empréstimos livres, segundo estudo da Fiesp, são a inadimplência (46%), a margem líquida (26%) e os impostos diretos (21%).

Os interesses conflitantes envolvidos nessa complexa questão dificultam ações mais eficazes para que o Brasil tenha taxas de juros decentes. O setor bancário enfatiza a necessidade de alterações regulatórias mais rígidas para diminuir a inadimplência e a redução dos impostos. Os setores produtivos apontam, principalmente, para o alto grau de concentração e, por conseguinte, para a necessidade de aumentar a competitividade bancária.

O Banco Central lançou a agenda BC# com um amplo leque de ações em quatro vetores: inclusão, competitividade, transparência e educação financeira, com efeitos de longo prazo. Algumas medidas, como a redução do compulsório, a aprovação do cadastro positivo, embora ainda não regulamentado, e a expansão dos bancos e corretoras digitais, que ampliam a concorrência, são exemplos de movimentos que podem contribuir para a queda dos juros nos empréstimos. Todavia, nada para gerar resultados significativos no curto prazo.

Enquanto isso, os efeitos dos cortes da Selic estarão restritos aos seus impactos nos custos da dívida pública e, em consequência, na política fiscal. 

Com os juros brasileiros não haverá crescimento sustentado.