Cada eleição tem sua história. Vitórias e derrotas resultam do contexto de seu tempo, da agenda própria em debate e da aceitação ou rejeição a determinados candidatos. A do próximo ano será afetada pelas normas eleitorais, que mudam a cada eleição, pelos impactos da pandemia, pelo desempenho da economia, pelo clima de beligerância e pela polarização entre duas forças – bolsonarismo e lulopetismo – que tendem a dominar as possibilidades reais de vitória.

Para avaliar estratégias possíveis para romper o estreito espectro da provável escolha, creio ser útil atentar para lições que a história eleitoral recente nos deixou.

Após a redemocratização, a eleição presidencial realiza-se em dois turnos, o que garante ao candidato eleito obter a maioria dos votos válidos. Na eventualidade de a decisão ficar para o segundo turno, pressupõem-se alianças e acordos entre as candidaturas que conquistaram as duas maiores votações e as eliminadas.

Espera-se, assim, no primeiro turno, ampla gama de opções, para os eleitores expressarem suas preferências, e, se a disputa seguir no segundo turno, que as forças políticas, então, se juntem às duas alternativas.

A experiência brasileira não corresponde a esse padrão. Em seis das oito eleições realizadas, os dois candidatos mais votados conquistaram, já no primeiro turno, mais de 75% dos votos válidos. Apenas em 1989 (Collor), a soma dos votos dos dois primeiros colocados no primeiro turno não chegou a 50% e, em 2002 (Lula I), a votação do segundo colocado (Serra) foi menor do que a da soma dos candidatos derrotados.

Uma das possíveis causas da bipolarização já no primeiro turno é a primazia do candidato sobre o partido. Vota-se na pessoa, sem considerar a legenda. Tem sido comum, inclusive, omitir a legenda do candidato. Práticas que favorecem o personalismo.

No caso de 2022, se mantida a já antecipada bipolarização, a disputa cairá necessariamente na armadilha de dilemas ancorados no passado e estimulados pela radicalização extremista, como direita-esquerda, nós-eles.

No entanto, não está nesses dilemas a essência da disputa no ano do bicentenário da Independência. Diante do esgarçamento das instituições democráticas e das atitudes do presidente Bolsonaro e seu entourage afrontando instituições, normas e costumes, o que estará em jogo é a escolha entre democracia e autocracia. O Brasil nunca se viu tão perto desta encruzilhada.

O sucesso de uma terceira via competitiva, fora dos binômios bem-mal, direita-esquerda, resultará da capacidade do candidato, já no primeiro turno, sensibilizar e mobilizar os eleitores para a escolha fundamental a ser feita entre democracia ou autocracia.

O sucesso da empreitada dependerá das competências do próprio candidato, pois a aliança relevante se dará entre ele e os eleitores, sem a intermediação de partidos. Os riscos de insucesso não são desprezíveis.