Havia um receio fundado no mercado e entre especialistas de que, no segundo semestre, o PIB poderia cair pela segunda vez consecutiva, caracterizando o início de uma nova recessão. As estimativas mensais do Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) do Banco Central previam queda acumulada do PIB de 0,4%, no primeiro semestre deste ano. No entanto, a divulgação do IBGE mostrando que o PIB cresceu 0,4%, no segundo trimestre, chegou como um alívio para o governo e o mercado. O crescimento de 0,4% do segundo trimestre evitou que o país afundasse novamente na recessão. Ufa! O fantasma estava afastado. Mas o sinal de alerta ficou aceso: a recuperação não é robusta nem, talvez, sustentável.
Depois de 11 trimestres seguidos, a recessão acabou no final de 2016. A recuperação iniciou-se com forte pujança em razão do resultado da supersafra no início de 2017; depois o crescimento perdeu força; em 2018 a tímida expansão foi interrompida pela retração no segundo trimestre; e 2019 iniciou-se com nova queda, seguida pela expansão de 0,4% no segundo trimestre, acumulando crescimento de 0,7% nos primeiros seis meses, comparativamente com o mesmo período de 2018.
Visto pela taxa anualizada, ou seja, pela comparação de quatro trimestres com os quatro imediatamente anteriores, o PIB começou a cair em 2011 e atingiu o fundo do poço no segundo semestre de 2016. A partir daí, aumentou lentamente a cada trimestre, ultrapassando a linha-d’água no final de 2017.
As experiências de recessões passadas sugerem alguns modelos de comportamento das economias. Por exemplo, a curva que melhor descreveria a trajetória do crescimento do PIB brasileiro na rápida recessão de 2008 seria na forma de “V”. Após a queda, há uma retomada imediata, com a mesma intensidade. Em outros casos, a trajetória da recessão pode ser mais bem descrita por uma curva na forma de “U”, com período mais longo no fundo do vale, ou na forma de “W”, como na crise do Plano Collor (1989).
A recessão atual é diferente de todas as anteriores. A profundidade e a extensão foram maiores, e a retomada está estagnada, descrevendo um J invertido. A média dos últimos sete trimestres do crescimento anualizado, homogêneo e com pequenas variações, é de apenas 1,1%. Até agora, a economia não decolou, e o PIB per capita permanece estagnado.
Há indicadores positivos para os próximos trimestres. A inflação baixa e a redução nas taxas de juros podem ajudar a expansão do consumo das famílias, e a colheita da nova supersafra agrícola terá impacto positivo no PIB de 2020.
Contudo, a sustentação do crescimento precisa de muito mais do que isso. O ambiente externo continua incerto, e, internamente, além da reforma da Previdência, são necessárias medidas para aumentar a eficiência, a produtividade e a competividade da economia, cujos resultados não serão imediatos.
Sem reformas, a depressão estará batendo às portas da economia.