As expectativas do mercado e as esperanças das pessoas estão depositadas no desempenho da economia nos próximos anos. Ao eleger Bolsonaro, a população sinalizou que deseja mudanças no comportamento dos políticos, na gestão pública e na economia. Todos esperam por dias melhores e desejam que fiquem no passado os tempos sombrios da política e da economia.
Depois de intermináveis 11 trimestres de recessão, o crescimento voltou a ser positivo ao ultrapassar a linha-d’água com modesto 1,1%, no final do ano passado. Neste ano, o crescimento está ligeiramente melhor. Depois de crescer 0,2% no primeiro e segundo trimestres, o PIB expandiu 0,8% no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior, segundo dados do IBGE. Do lado da demanda, foi impulsionado principalmente pala formação bruta de capital fixo, cuja expansão foi de 6,6%. Do lado da oferta, a agropecuária liderou o crescimento, com 0,7%, acompanhada pelos serviços (0,5%) e pela indústria (0,4%). É importante notar o crescimento da construção (0,7%) e das atividades imobiliárias (1,0%), porque, muito afetados negativamente pela recessão, esses setores não haviam demonstrado recuperação nos últimos meses.
Na comparação da média anualizada, isto é, os últimos quatro trimestres terminados em setembro ante os quatro trimestres imediatamente anteriores, o crescimento do PIB foi de 1,4%, pouco superior à expansão de 1,1% no ano passado. O crescimento da agropecuária (0,4%) foi bem menor do que o observado em 2017, porque o nível para a comparação é alto em razão da extraordinária safra de 2016/2017. Os serviços cresceram 1,5%, e a indústria, 1,3%. A formação bruta de capital fixo expandiu 4,3%, e o consumo das famílias, 2,3%. O consumo do governo elevou-se em 0,2%. A expansão conjunta de todos os componentes da demanda interna, na comparação anual, ocorreu pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2014, indicando robustez na lenta recuperação da economia. Com taxa de investimento em apenas 17%, se espera para o final deste ano crescimento inferior a 1,5%.
Mesmo a recessão ficando para trás, seus custos continuam presentes. A renda per capita deste ano está no mesmo nível de 2012, revelando seis anos perdidos; o volume de pessoas desempregadas e desalentadas passa de 17 milhões; o explosivo desequilíbrio fiscal está afetando a qualidade já precária dos serviços públicos; e, acrescenta-se, vários Estados e municípios estão em situação de calamidade financeira. Enfim, a reconstrução da economia e a superação de seus estragos sociais demandarão esforços persistentes e duros sacrifícios por vários anos.
O governo que se instalará em janeiro propõe realizar profundas reformas para destravar a economia, começando pelas mudanças no sistema de Previdência Social e no regime tributário e por privatizações e concessões de serviços públicos. O cumprimento dessa agenda dependerá da habilidade do presidente, de um lado, para convencer a sociedade de que a relevância das medidas justifica seus sacrifícios e, de outro lado, para conseguir maioria parlamentar suficiente para aprová-las.
O mercado, que agradece essa agenda, parece não estar tão convencido do seu êxito, pois sua estimativa para o crescimento em 2019 está congelada em 2,5% desde junho deste ano, segundo o relatório Focus do Banco Central. Como são Pedro, o mercado, desconfiado, quer antes ver as primeiras vitórias no Parlamento para depois, então, crer na real mudança no curso da economia.
Enfim, o longo prazo se constrói com os resultados no curto prazo.