PAULO PAIVA

Paz, não guerra

Neste ano, o temor é com a eleição presidencial. Quanto mais se aproxima de seu dia, mas sobem a tensão e o medo

Por Paulo Paiva
Publicado em 15 de julho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Nas suas relações externas, o Brasil é um país pacífico, por excelência. Conta com a terceira maior extensão de fronteiras terrestres internacionais (14.691 km), atrás apenas da Rússia e da China, mantendo divisas com todos os países da América do Sul, exceto Equador, e com a Guiana Francesa, departamento ultramarino da França na região, sem conflito e em permanente paz. Seu último combate em território sul- americano, a Guerra do Paraguai, acabou há mais de 150 anos.

Entretanto, internamente o ambiente não é o mesmo. Há nos corações um aperto estranho, no ar, um cheiro de pólvora. Há um sentimento de que alguma coisa desagradável acontecerá, em breve; não se sabe o quê, não se sabe quando. A alegria dos jingles e das músicas nos tempos eleitorais foi substituída pelo silêncio do medo.

Não que as eleições no Brasil sempre tenham acontecido sem conflitos, sem brigas e sem agressões. Não. Há registros de brigas e mortes, principalmente nas disputas municipais, pelo interior. Mas, neste ano, o temor é com a eleição presidencial. Quanto mais se aproxima de seu dia, mas sobem a tensão e o medo. Aguarda-se uma notícia trágica, um ato enlouquecido, um corpo de candidato estendido no chão, uma tentativa mais clara de atentado contra instituições. Esperam-se fortes conflitos de grupos radicais. Só o que não se espera é paz

As tensões políticas estão aumentando, acendem-se as fogueiras da fúria, e a violência avança diante de uma disputa envenenada pela paixão e pela intolerância. As redes sociais com seus algoritmos insuflam o ódio, latente nas posições radicais dos seguidores dos candidatos que lideram as preferências eleitorais.

Já há algum tempo gerando desconfianças, o presidente Bolsonaro questiona a inviolabilidade das urnas, sem apresentar evidências. Recentemente, vê-se pela imprensa que as Forças Armadas, por intermédio do ministro da Defesa, tornaram pública sua intenção, coincidindo com recomendações do presidente da República, de colocar em prática um plano de apuração paralela da votação. Implícitos estão a desconfiança das Forças Armadas no sistema eleitoral e o seu propósito de exercer atribuição de outro Poder, além das que lhes confere a Constituição. Feito inédito na história política do país.

Preocupante também foi a declaração do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, feita no Wilson Center, em Washington DC, nos Estados Unidos, ao dizer que “nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do que o de 6 de janeiro daqui do Capitólio”.

Constituem-se fatos gravíssimos as ameaças, denúncias e declarações de titulares de Poder, sem suas devidas comprovações. Autoridades, que deveriam contribuir para a paz interna, estão a fomentar o medo e a incerteza na sociedade.

Bandeira branca, autoridades públicas. O povo exige paz.

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