PAULO PAIVA

Sacrifício em vão?

Esta sexta-feira nos convida à reflexão sobre a paixão de Cristo, cuja passagem pela terra terminou no seu martírio até a morte


Publicado em 02 de abril de 2021 | 06:00
 
 
 
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Esta sexta-feira nos convida à reflexão sobre a paixão de Cristo, cuja passagem pela terra terminou no seu martírio até a morte, com suas mãos e seus pés pregados à cruz e uma coroa de espinhos ferindo sua cabeça. Sua morte nessas condições desumanas revela a injustiça de seu julgamento no sinédrio de Jerusalém e o ódio do povo mobilizado nas ruas pedindo sua cabeça e a concessão de perdão aos ladrões.

Nesta Sexta-feira Santa, tomados pelo medo e pela insegurança, contemplamos o Cristo agonizando no monte Gólgota, com profundo sentimento de injustiça. O justo, que pregou a paz e a esperança, foi considerado culpado, enquanto ladrões foram absolvidos e libertados. Jesus não foi julgado com base em fatos, mas nos interesses e nas crenças das autoridades, que temiam suas virtudes. Juízes condenaram um inocente e puseram em liberdade comprovados ladrões.

Nesta Sexta-feira Santa, olhamos para a imagem de Cristo, reconhecendo que seu sofrimento resultou da disseminação do ódio a da violência de um povo incauto, seguindo cegamente seus líderes e títeres. O simbolismo da vida e da paixão de Jesus Cristo ilumina os tempos sombrios de hoje.

Que tempos são esses que vivemos, nos quais a geração de riqueza não se distribui conforme as capacidades e as necessidades das pessoas, mas semeia iniquidade e pobreza? Que tempos são esses, nos quais o Estado está subjugado a diferentes interesses privados, contribuindo para aumentar a desigualdade social e econômica? Que tempos são esses, que aceitam passivamente a discriminação por gênero, raça, religião ou por outras características que distinguem umas pessoas das outras? Que tempos são esses, nos quais prevalece o interesse próprio sobre o bem comum e a injustiça sobre a justiça?

Que tempos são esses que vivemos, nos quais as pessoas são movidas pelo ódio e pela intolerância? Que tempos são esses, nos quais não há lugar para a compaixão e a solidariedade? Que tempos são esses, nos quais a violência intimida as pessoas e banaliza a vida? Que tempos são esses, nos quais pessoas são agredidas e assassinadas devido ao seu gênero, sua cor, sua orientação sexual ou sua profissão de fé religiosa ou política? Que tempos são esses, nos quais pessoas estão morrendo vitimadas por uma pandemia cruel, enquanto as autoridades se desentendem por questões fúteis e interesses mesquinhos? Que tempos são esses, nos quais as liberdades estão sendo sufocadas?

Não conseguimos entender esses tempos sombrios. Teria o sacrifício de Cristo sido em vão? Reguemos nossas esperanças, com as lágrimas dos oprimidos, dos injustiçados e daqueles que estão chorando seus entes queridos mortos sem razão e sem assistência, para a chegada de um novo tempo, tempo de solidariedade, compaixão e amor.
Se tivermos justiça e paz, tudo o mais virá, como consequência.

 

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