Crescimento econômico não é destino das nações, tampouco obra da natureza ou do mercado. Desde a década de 1980, a economia brasileira perdeu seu vigor anterior e, como consequência, sua posição relativa no contexto das nações. Nos primeiros 20 anos deste século, seu crescimento foi pífio.
Qual a herança deixada pelas políticas econômicas do século XX? Como ela molda o desempenho atual e condiciona o futuro? Que lições podem ser aprendidas com a experiência brasileira do século XX? Estas são questões que o professor Affonso Celso Pastore, um dos mais respeitados economistas brasileiro, procura responder em seu livro “Erros do Passado, Soluções para o Futuro”, entregue ao público nesta semana, pela editora Portfólio-Peguin.
Não é uma coletânea de artigos anteriormente escritos, mas novos estudos, cujas conclusões resultam de hipóteses derivadas da lógica matemática da teoria econômica e cujos resultados empíricos emergem do rigor de análises econométricas dos dados.
Pastore derruba velhas crenças encontradas nas narrativas de análises econômicas passadas, como a ideia de que a produção agrícola no Brasil não respondia à variação de preços. Ao contrário, demonstra como a inovação teve papel fundamental na expansão de um setor que pouco dependeu dos incentivos fiscais e foi aberto, desde sempre, ao mercado internacional.
Por outro lado, desconstrói as críticas à expansão do “milagre brasileiro”, calcadas em narrativas puramente políticas, afirmando que países que adotaram intervenções corretas puderam crescer, mesmo quando, temporariamente, desviaram-se dos princípios do livre comércio.
Avalia as políticas econômicas do II PND, identifica as origens da crise da dívida externa e da superinflação dos anos 1980, chegando, então, ao eterno problema fiscal. No último capítulo aborda os mitos e realidade das relações entre câmbio e crescimento.
Pastore inspira-se nas modernas contribuições da abordagem institucionalista de Douglass North, sobre mudanças econômicas, e de Acemoglu e Robinson, sobre o papel das instituições no desenvolvimento das nações, para apontar soluções para o futuro. As escolhas de políticas econômicas não são independentes do embate das forças políticas.
Seu estudo reflete a experiência de uma longa trajetória no último meio século como pesquisador, professor, consultor, colunista e presidência do Banco Central.
Descendente italiano, Affonso Celso Pastore abre seu livro com a citação do Canto XXVI do Inferno de Dante – “Fatti non foste a viver come bruti, Ma per seguir virtu e conoscenza” –, cuja tradução livre poderia ser: “Vocês não foram feitos para viver como brutos, mas para seguir a virtude e o conhecimento”. No esplendor de seu entusiasmo, aos seus 82 anos, o jovem professor, com sua magnífica obra, compartilha generosamente conosco suas virtudes e seu conhecimento.