As revoluções industriais, que vêm ocorrendo na história mundial desde o século XVIII, resultaram em aumentos significativos na produtividade da mão de obra. As ondas de inovação, que vão desde a energia a vapor às redes digitais, trouxeram grande prosperidade para muitas nações, multiplicando o rendimento do trabalho por algumas centenas de vezes em relação aos valores que prevaleciam em 1785.

Ao longo das quatro últimas décadas, há, em escala mundial, uma crescente inquietação quanto à capacidade de suporte da base de recursos naturais do planeta para acomodar a intensificação dos níveis de acumulação, produção e de consumo de milhões e milhões de habitantes, que vêm sendo incorporados aos diversos mercados de bens e serviços. Somam-se a isto, os impactos destrutivos que as mudanças climáticas têm provocado sobre os ecossistemas mundiais. No caso brasileiro, a inquietação da opinião pública se estende desde o desmatamento das nossas florestas tropicais até a degradação ambiental das principais bacias hidrográficas do país, passando pela intensa poluição do ar nas grandes metrópoles.

Em função dessas inquietações, tem surgido um grande número de propostas para se construir uma nova ordem econômica internacional baseada numa concepção abrangente e ampliada de desenvolvimento sustentável. Entre essas propostas, destaca-se a que afirma estarmos caminhando para uma nova revolução industrial, na qual se processam mudanças profundas na produtividade dos recursos materiais e de energia e na qual a emergência de um capitalismo natural se torna inevitável.

Um elemento central do capitalismo natural é a ideia de que a economia moderna já está passando de uma ênfase na produtividade humana para um aumento radical na produtividade dos recursos naturais (reciclagem de resíduos, usos múltiplos da água, conservação dos ativos ambientais, melhorias nos coeficientes técnicos de produção etc). Já há estudos mostrando ser possível pelo menos quadruplicar a produtividade dos recursos na medida em que se compreenda melhor o extraordinário desperdício de materiais e de energia no atual sistema industrial. Como as ondas de inovação são fundamentais para a prosperidade econômica, a expansão da produtividade dos recursos naturais se baseia nas inovações da ecologia industrial, da biomimética, do sistema de design integrado, da nanotecnologia, da química verde etc.

O capitalismo natural propõe um novo modelo industrial, no qual nem todos os produtos sejam apenas manufaturados e vendidos, mas que surja uma economia de serviços em que os consumidores adquirem serviços de bens duráveis por meio de aluguel e arrendamento, de tal forma que a indústria se responsabiliza pelo ciclo completo de materiais. A indústria deve lidar com os resíduos e os problemas resultantes de danos ambientais, e deve recuperar os produtos e tratá-los como ativos, o que termina por aumentar a produtividade dos materiais e da energia.

Enfim, no horizonte está a exaustão dos recursos ambientais. O que levou Carlos Drummond de Andrade a escrever: “Eu por mim criaria o Ministério da Exaustão, que aconselharia o governo a dar lugar a outros governos, o velho a remoçar quando vai esticando a canela. Ensinaria ao mesmo tempo o moço a fruir sua novidade ciente de que outra novidade vem aí, e que o mundo não acaba quando acabamos”.