Após a II Grande Guerra, o governo norte-americano implementou a iniciativa de conceber e implementar o Plano Marshall, visando à reconstrução dos países aliados na Europa. A ajuda financeira total do plano foi equivalente, a preços de hoje, a pouco mais de US$ 100 bilhões, distribuídos entre 18 países europeus devastados pela guerra. As subvenções do Plano Marshall representaram menos de 3% da renda nacional consolidada dos países receptores entre 1948 e 1951.

No Brasil, algumas regiões designadas como áreas economicamente deprimidas (o Agreste e o Sertão do Nordeste, o Vale do Jequitinhonha e o Vale do Mucuri, áreas desmatadas da Amazônia Paraense etc.) receberam, durante décadas, investimentos em infraestrutura econômica e social, incentivos fiscais e financeiros para projetos de investimentos diretamente produtivos e transferências fiscais compensatórias para as famílias mais pobres e para as prefeituras locais, e, ainda assim, a resposta foi frustrante para o seu processo de crescimento econômico, embora saudável para o bem-estar social das populações locais.

Como explicar o fato de que um volume de recursos financeiros relativamente menor, em um período relativamente mais curto, tenha impulsionado a revitalização da economia e do desenvolvimento dos países europeus, enquanto, em muitas áreas economicamente deprimidas do Brasil, não ocorreu a ruptura dos grilhões do subdesenvolvimento socioeconômico, ainda que com o aporte de recursos financeiros em maior volume e durante mais tempo? Uma resposta didaticamente simplificada pode ser o déficit de capital social nas áreas economicamente deprimidas, as quais englobam, atualmente, cerca de 1.800 dos 5.570 municípios brasileiros.

Uma sociedade, para se desenvolver, precisa de capitais físicos, como o capital técnico (máquinas, equipamentos, instalações, infraestrutura) e o capital natural (aquíferos, bacias hidrográficas, terra fértil, florestas, minérios etc.), que constituem uma de suas condições necessárias. As condições suficientes são dadas pelos capitais intangíveis (institucional, intelectual, cívico), entre os quais se destaca o capital social.

É o capital social que permite aos membros de uma comunidade confiar um no outro, confiar na formação de novos grupos, realizar ações em comum, facilitar ações coordenadas, como as redes sociais, com base na confiança e em normas como solidariedade, engajamento cívico e reciprocidade. É o capital social que induz a emergência da endogenia.

Um processo de desenvolvimento endógeno é concebido e implementado a partir da capacidade de que dispõe determinada comunidade para a mobilização social e política de recursos humanos, materiais e institucionais, em uma determinada localidade ou região. Não é um processo que brota do conformismo, da apatia, da inércia ou da passividade da população local.

Enfim, países europeus reconstruíram com eficácia o seu desenvolvimento porque a guerra destruiu o seu capital físico, mas não destruiu o seu capital social, as suas instituições públicas e privadas, a capacidade empreendedora, inovadora e endógena de seus povos. Áreas economicamente deprimidas, onde prevalecem o conformismo e o desalento, não conseguem percorrer, com sucesso, a sinuosa e inefável trajetória da crise estrutural que torna possível a mudança transformadora.