“Não faça com os outros o que não quer que façam com você”. Tenho certeza de que já escutou isso antes. No meu caso, escutei e falei muito isso, até me deparar com o inevitável: o outro não sou eu e não tem necessariamente os mesmos desejos. 

Claro que não estou jogando fora uma frase que nos traz respeito, mas, definitivamente, ela não traz empatia. Ser empático é conseguir se colocar no lugar do outro, sentindo o que ele sente. Isso não é nada fácil! 

Sou uma pessoa altamente auditiva; falar que amo, assim como escutar, é um ato de amor para mim. Estou há 25 anos casada com um homem visual; me olhar apaixonadamente nos piores dias (aqueles de bad hair, como dizem os britânicos) como se eu estivesse linda, passando pelo tapete vermelho, é a forma dele de demonstrar amor e me incentivar. Há, ainda, pessoas que demonstrarão afeto por uma atitude, como dar presentes, carregar uma sacola. Damos o que temos em nós.

É aí que está um dos pulos do gato na comunicação, conseguir perceber que o outro não terá as mesmas atitudes que eu e que não adianta cobrar. Desejar que um visual fale dos sentimentos é como pedir para um peixe correr ou para um pássaro nadar. Impossível? Bem, não é bem assim, há pássaros que nadam, assim como os patos ou marrecos, e há peixes que correm para migrar, por exemplo, da água doce para a salgada: são os peixes diádromos. Mas por que estamos mesmo discutindo isso? Ah, sim, pela possibilidade de um comunicação diferenciada.

No dia a dia, precisamos aceitar o outro e, para isso, podemos focar nossa habilidade em observar em vez de cobrar que o outro faça o que faríamos. Mas podemos ir muito além se quisermos ser exímios comunicadores.

A publicidade usa muito um termo para designar um grupo de consumidores com características semelhantes, chamado “público-alvo”. Para definir esse público, faz-se uma pesquisa de mercado e se avaliam minimamente características como idade, gênero, classe social e preferências.

Carl Jung, fundador da psicologia analítica, cita o inconsciente coletivo, que seriam experiências comuns a toda a humanidade, mas, ao mesmo tempo, estuda nossa psique individual. Em um dos seus principais livros, “Tipos Psicológicos”, ele estabelece alguns padrões de personalidade e de comportamento, que, quando associados, acabam por formar indivíduos únicos.

Se ao menos nos abríssemos para a possibilidade de refletir sobre as características gerais dos grupos ou pessoas para ou com as quais vamos falar, melhoraríamos muito nossas habilidades não só de sermos entendidos (habilidades comunicativas), mas também – e até principalmente – nossas habilidades empáticas.

Aposto que, se estivéssemos mais abertos a entender ao menos um pouco dos padrões sociais, ainda que formem individualidades únicas, não estaríamos tão envolvidos pelo próprio espelho, esperando sempre que o outro seja apenas nosso reflexo.

Rafaela Lôbo
Mestre em Análise do Discurso pela UFMG, empresária e CEO Scriptus Comunicação