A escolha do Nobel de Economia de 2024, realizado pela academia sueca, joga luz sobre a desigualdade entre os países. Ajuda a entender por que o mundo é dividido entre nações prósperas e outras marcadas pela pobreza. Os escolhidos foram Simon Johnson e Daron Acemoglu, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e James A. Robinson, da Universidade de Chicago.
O trio desenvolveu nas últimas décadas estudos com levantamentos históricos, sociais e econômicos, em várias partes do mundo, depois transformados em livros como: “Origens Econômicas da Ditadura e da Democracia”; “Por que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza” e “O Corredor Estreito: Estados, Sociedades e o Destino da Liberdade”.
A análise histórica dos pesquisadores foi até o expansionismo marítimo europeu, que, entre os séculos XV e XVII, explorou intensivamente o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio.
As diferentes características de colonização deixadas nestas explorações foi o objeto principal das pesquisas agora homenageadas com o Prêmio Nobel. As díspares instituições implementadas nas colônias contribuíram para explicar o desenvolvimento dessas sociedades, sua dinâmica econômica e política.
“Nos perguntamos como surgiu historicamente esta diferença, e como se manteve apesar das enormes consequências para o bem-estar humano”, explicou o economista Simon Johnson.
Os estudos ajudam a entender os problemas crônicos presentes na América Latina. Eles classificam a colonização aqui praticada por espanhóis e portugueses como formação de instituições extrativistas. Baseou-se na exploração dos povos indígenas, na existência da escravidão e na expropriação das riquezas naturais para os colonizadores.
A herança do regime de poder ali estabelecido mudou de acordo com os acontecimentos políticos e sociais ao longo dos séculos, mas mantém a sua essência. Se antes a riqueza era destinada aos colonizadores, hoje ela está concentrada nas mãos de uma elite local, que não tem compromisso com a nação.
Em geral, nestes países, o crescimento econômico ainda enfrenta dificuldades, tornando a pobreza predominante. A vocação econômica permanece praticamente a mesma, com a exportação de produtos primários.
Em contraponto, os premiados estudaram também a outra forma de colonização, como a praticada pelos ingleses nos Estados Unidos. Ali, eles criaram as chamadas “instituições inclusivas”, onde a sociedade participa do desenvolvimento e de seus resultados.
No livro “Por que as Nações Fracassam”, eles usaram um estudo de campo que traduz a teoria. Apresentam o caso de uma cidade dividida ao meio na fronteira entre México e Estados Unidos: a latina Sonora e a vizinha estadunidense Nogales.
No país colonizado de forma “inclusiva”, seus habitantes têm mais opções de estudo, acesso a profissões mais qualificadas, além de amplos direitos políticos. Para os explorados pela forma “extrativista”, as oportunidades econômicas e profissionais são mais restritas, e o sistema político inibe mudanças
As pesquisas premiadas com o Nobel atualizam percepções da forma em que a colonização moldou o desenvolvimento da nossa região, tão bem elucidada em clássicos como “Veias Abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano. Mostram que o desafio para nossos países de desenvolverem é gigante, pois temos que enfrentar problemas históricos, que conceberam nossa formação.
Mas temos exemplos no mundo que mostram que é possível inverter a roda da história e conquistar avanços sociais, apesar das diversidades. Um caso emblemático é a China, que tinha quase toda sua população em estado de pobreza e atualmente está conquistando o posto de maior economia do planeta.
O Brasil pode também superar o subdesenvolvimento que nos foi predestinado. A nação tem que entender nosso potencial e se unir em um novo projeto de desenvolvimento, baseado na produção com valor agregado, investimentos em tecnologia e na educação. Construir uma sociedade participativa dando voz a milhões, para romper com o predomínio de uma elite que, desde os tempos de Cabral, só pensa e trabalha para manter e aumentar seus privilégios