Ricardo Lebourg Chaves

A filosofia espiritualista dos essênios

Renúncia aos prazeres da carne e ao mundo material


Publicado em 28 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Não podemos negar, de certa maneira, que a história da humanidade é caracterizada, entre outros aspectos, pela multiplicidade e pela diversidade de crenças e de cultos religiosos. É nesse contexto de pluralidade espiritualista que enquadramos, sem dúvida alguma, a antiga seita asceta essênia, a qual, segundo alguns teólogos pós-modernos, surgiu no século II a.C., no Oriente Médio, em razão de algumas divergências filosóficas e doutrinárias em relação à religião judaica.

Assim, os essênios podem ser definidos, em poucas palavras, como uma seita espiritualista asceta, isto é, uma filosofia espiritual iniciática que pregava a renúncia aos prazeres da carne e ao mundo material. Além disso, os essênios visavam, também, à evolução espiritual e moral por meio de algumas práticas proféticas e ritualistas, como, por exemplo, a mutilação genital, o batismo, o jejum, o celibato, a comunhão, o vegetarianismo e a mortificação do corpo biológico como forma de demonstrar santidade e amor incondicional à divindade.

Não obstante algumas divergências antropológicas e teológicas, o antigo historiador judaico-romano Flavius Josephus confirma, em seus livros, a existência do essenismo, bem como narra parte da trajetória de vida desse povo na região da Palestina. Assim, e conforme ainda esse renomado historiador, os devotos do essenismo viviam em regiões muito isoladas no deserto árido e quente do Oriente Médio, bem como seguiam regras religiosas pertinentes ao Antigo Testamento. Além disso, e de acordo com alguns escritos judaico-cristãos, o próprio profeta João Batista, o precursor, pode ter sido um seguidor dessa filosofia iniciática e espiritualista, pois os adeptos dessa doutrina também pregavam, em seus pergaminhos, a vinda do Messias, a qual pode ser perfeitamente representada pela encarnação do Cristo (Jo 1:14).

Ressalte-se, ainda, que o povo essênio voltou a ser objeto de sérios estudos antropológicos, sociológicos e teológicos, pois, como sabemos, em meados do século XX, foi descoberto, em Qumran, os “Manuscritos do Mar Morto”, os quais também ficaram conhecidos como a “Doutrina do Deserto”. Em virtude dessa descoberta arqueológica e científica, a cidade de Qumran, em Israel, é considerada, atualmente, prova irrefutável da existência desse povo religioso, bem como de seu legado literário sagrado e espiritualista. Observe-se, também, que vários biblistas contemporâneos defendem a coexistência sociorreligiosa entre os povos essênio, judeu e cristão. Ademais, outros pesquisadores confirmam, ainda, que os essênios exerceram enorme influência no que tange às revelações trazidas pelo Cristo. Por conseguinte, e em razão da similitude dessas duas doutrinas sagradas, muitos essênios se converteram, ainda no século I, ao cristianismo. Por fim, os essênios foram, infelizmente, perseguidos por judeus, gregos e romanos, o que extinguiu essa comunidade espiritualista ainda no século I d.C.

 

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