Não podemos negar, historicamente, que o cristianismo primitivo fundamentava-se na multiplicidade de linhas espiritualistas, como, por exemplo, a ortodoxa, a ebionista, a docetista, a maniqueísta e a gnóstica. Nesse contexto, os gnósticos representam um importante segmento do cristianismo primitivo baseado numa visão mais esotérica, iniciática, imanente e espiritualista dos ensinamentos do Cristo. De fato, os gnósticos são uma espécie de seita cristã sincrética muito antiga consubstanciada em revelações secretas, as quais foram, politicamente, consideradas heréticas pela Igreja de Roma. Não obstante apenas a oficialização dos Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João, entendemos que os Evangelhos canônicos não contêm toda a verdade revelada pelo Cristo. Assim, inúmeras são, realmente, as mensagens inovadoras trazidas pelos evangelhos gnósticos, os quais foram, em sua maior parte, encontrados em Nag Hammadi. Além disso, foi encontrado também, em 1970, na província de El Minya, no Egito, o “Evangelho Cristão Gnóstico de Judas Iscariotes.” Conforme alguns teólogos modernos, esse recente descoberto evangelho foi escrito, em princípio, em grego e, posteriormente, foi traduzido para a língua copta, isto é, a língua falada no antigo Egito. Na mesma linha referente ao anonimato dos autores dos Evangelhos canônicos, também não podemos afirmar, com exatidão, quem escreveu o evangelho atribuído ao discípulo Judas. Apesar disso, sabemos que esse pergaminho foi escrito no século II, bem como teve a sua autenticidade confirmada pela comunidade científica internacional especializada na área da papirologia. Para o pesquisador de religiões José Lázaro Boberg, o “Evangelho de Judas” trouxe significativas novidades para o mundo cristão pós-moderno. Realmente, esse manuscrito sagrado revelou que o apóstolo Judas não traiu Jesus, o que modifica, de forma substancial, a compreensão do cristianismo primitivo. Nesse sentido, a professora da University of Princeton Elaine Pagels também confirma que foi, de fato, o próprio Cristo quem ordenou que Judas cumprisse a sua principal missão como discípulo do Messias, ou seja, libertar o Cristo do corpo de carne e sangue que estava encarnado na figura histórica de Jesus Nazaré, vejam: “Disse o Cristo a Judas: Tu vais ultrapassar todos. Tu sacrificarás o homem que me revestiu”. Por isso, e para os gnósticos, Judas Iscariotes simplesmente cumpriu uma determinação messiânica para que os planos divinos fossem realizados na Terra. Assim, devemos reinterpretar a Bíblia Sagrada com base no gnosticismo cristão, bem como devemos ter autossenso crítico religioso para analisarmos e compreendermos a diversidade de cultos, crenças e escritos espiritualistas que reinava na cristandade primitiva, pois não podemos esquecer-nos de que Agostino de Hipona já ensinava, nos séculos IV e V, que “por baixo da lama dos apócrifos há ouro a ser colhido.”
O Evangelho Cristão Gnóstico de Judas
Texto reúne significativas novidades
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp