Gastronomia

O barato de comer barato

Redação O Tempo

Por Renato Quintino
Publicado em 03 de agosto de 2015 | 15:22
 
 
 
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Quem tem mais de 40 anos sabe que “é um barato” tudo aquilo que é um ótimo programa e que dá prazer. Comer bem, gastando pouco, sendo bem atendido e num ambiente bacana, é prazeroso em vários níveis.

Existe uma equação perversa na questão satisfação e preço em restaurantes. Muitas vezes, as piores experiências são as mais caras, porque a expectativa é enorme e algumas casas se julgam mais importantes que os clientes. A refeição acaba valendo mais pelo programa e por ter gerado referência, e não pelos seus sabores.

Por outro lado, restaurantes informais – ou os conhecidos como a segunda linha de chefs famosos – agradam mais. Guias como o “Michelin” não costumam dar três estrelas para casas com serviço descontraído (e eficiente) e décor simples, mesmo que de bom gosto.

O trabalho do chef está ali de qualquer forma, não é preciso provar que estagiou na Espanha, das influências que teve de Ferran Adrià e se preocupar de reinventar à exaustão ingredientes nativos de seu país.

Excelência

Dificilmente a cozinha do Daniel é melhor do que a de seu Cafe Boulud, em Nova York, ou do Bar Boulud no Mandarin Oriental, em Londres. O preço do almoço é ridículo por um menu-degustação perfeito, bem executado, com excelência de serviço e décor sofisticado.

O almoço no Nougatine no West Side, em Nova York, é excepcionalmente bom e mais barato que o Jean-Georges no mesmo endereço. O chef Jean-Georges Vongerichten brilha nos dois, embora tenha restaurantes de Shangai a Las Vegas. Sempre presente na casa, a diferença está na utilização de produtos como caviar iraniano ou trufas brancas de Alba. Como não é só de caviar que vive o homem, comer no mais barato traz a delicadeza e o refinamento dos sabores do chef, com direito à vista do Central Park.

O chef português José Avillez tem duas estrelas no seu Belcanto, em Lisboa, com cozinha inspirada na molecular. A duas quadras dali está o simpático e delicioso Cantinho do Avillez, barato, descontraído, com sugestões que vão de pregos ótimos (sanduíches de pão com carne), bacalhau e bife a cantinho delicioso, que recria o clássico “bife à lisboeta” (filé grelhado com presunto cru, molho da própria carne e pimenta-do-reino preta), além da sobremesa que é seu grande sucesso, avelã ao cubo (espuma, crumble e sorvete de avelã servidos num mesmo copo).

Bom programa

Em São Paulo, ver a exposição de quase 80 quadros de Guignard (R$ 6 nos dias de semana e de graça domingo) e almoçar no restaurante do MAM é um programa barato, assim como comer um ceviche, galeto (ao custo de R$ 17 cada) e três leches de sobremesa no Gozales, no Mercado de Pinheiros. O Bistrot Paul Bert, em Paris, tem ótimo menu de três pratos no almoço por 19 euros; o

El Toque Pez, em Lima, serve arroz de frutos do mar e ceviche muito bons por R$ 15 (o lugar é mesmo simples, um pouco fora de mão, não há bons vinhos e come-se no balcão); e na cidade do Porto comer uma “francesinha” (sanduíche quente de pão, presunto de qualidade, ovo e molho de carne cozido) é ótimo programa.

E, claro, existe ainda a comida de rua bem-feita, como currywursts em Berlim, fish and chips em Londres, crepes em Paris e pérolas como os clássicos cachorros-quentes do Gray’s Papayas, em Nova York, e a sopa de cebola por 6 euros do Pied de Cochon, em Paris. Barato dos baratos!

"Muitas vezes, as piores experiências são
as mais caras, por causa da expectativa."

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