Muita gente debocha e não respeita, mas a onda vegana e vegetariana cresce a cada dia em todo o mundo em restaurantes bem-montados, com receitas e apresentação dos pratos feita para gourmets.

Muito forte nos anos 70 como reflexo da contracultura que trouxe orientalismos para o Ocidente na forma de correntes espiritualistas, formas de se vestir e de comer, os restaurantes naturais eram grandes pontos de encontro de artistas, gente descolada e mística.

Depois do furacão yuppie do fim dos anos 80, da onda neoliberal e da emergência da identificação de status com o consumo de marcas sofisticadas, a comida natural e vegetariana foi rotulada como ultrapassada por sua associação com o estilo de vida esotérico, hippie e alternativo. Contudo, seu retorno dentro de outra abordagem hoje é forte vindo da busca de um estilo de vida mais simples, equilibrado e saudável, intensificado após o desencanto trazido pela crise econômica internacional.

A enorme cadeia Whole Foods, nos Estados Unidos, com centenas de produtos orgânicos e biodinâmicos certificados e de bom preço é uma das representações mais expoentes. Hoje, em restaurantes de grandes chefs no país, a informação sobre a procedência dos produtos é vital, demonstrando a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade, atraindo clientes e imprensa.

Exemplo

Um dos motivos que levou o Peru a ser visto como um dos melhores lugares do planeta para se comer bem está na enorme diversidade de seus produtos orgânicos vindos do Vale Sagrado, que, de fato, traz um sabor único para a comida local.

O envolvimento do país com a causa é tão grande que até mesmo em Lima existem plantios orgânicos (a cidade tem diversos microclimas que vão de altitudes de zero a 5.000 m) e associações de pesca sustentável.

Em Amsterdã, cidade há muito comprometida com este estilo de vida e onde a bicicleta é o meio de transporte mais importante, a novidade é o Bakhuys, ótima referência de padaria, pequeno restaurante, pizzaria e confeitaria com todos os produtos orgânicos.

Também se destaca no assunto a cidade de Berlim, onde o excelente vegetariano Cookies Cream faz com que até mesmo carnívoros inveterados não sintam falta de carne e nem mesmo de peixe em seu inventivo e delicioso menu-degustação.

O sucesso dos livros do chef alemão Attila Hildmann – que ganhou o prêmio de melhor novo livro de gastronomia em 2013 com o seu “Vegan for Fit” – celebra a abordagem gourmet da cozinha vegana com receitas de primeira em pratos com apresentação de alta gastronomia.

E, em Nova York, em Nomad (North of Madison Square), a região do momento na cidade, faz sucesso o ótimo Sweetgreens com fila na porta, instalação de bom gosto e arrojada, balcão e pequena arquibancada em madeira, seleção de diversas de saladas, legumes, grãos, opção de peixe e carne, além de sucos detox e chás purificadores com que os clientes se servem à vontade.

Quem é vegano ou vegetariano está acostumado com brincadeiras e gozações como se comer picanha devesse ser um prazer universal. Brincadeiras à parte, enquanto isso, restauranters antenados estão sintonizados com o enorme crescimento do público para o novo estilo de restaurantes naturais. Hoje, mesmo para quem não abre mão de carne vermelha, creme de leite e manteiga, no mínimo a informação sobre a procedência dos produtos e o foco no orgânico tornou-se fundamental.