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Sinais que valem por mil palavras

Entre apoiadores e opositores do novo governo, acredito que poucos eram os que lutavam ou que, sequer, sabiam dos direitos das pessoas surdas

Por Raquel Penaforte
Publicado em 06 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Um dos assuntos mais comentados dessa primeira semana de 2019 foi o discurso em Libras da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O evento, que por si só, já chama a atenção de toda a imprensa nacional – e grande parte da internacional – parece ter despertado o olhar para aqueles que nunca “na história desse país” tiveram sua língua-mãe tão em evidência.

Não quero focar no discurso da primeira-dama, que, por sinal, continha diversos erros gramaticais – erros básicos que não comprometeram a mensagem, mas comuns de quem é principiante e ainda não tem fluência no idioma. Quero falar como o discurso repercutiu além do dia da posse.

Entre apoiadores e opositores do novo governo, acredito que poucos eram os que lutavam ou que, sequer, sabiam dos direitos das pessoas surdas. Creio que alguns, tampouco, sabiam o que era Libras.

O fato é que, em pouco tempo, em todo o país, pessoas começaram a comentar sobre a comunicação dos surdos. E não parou por aí!

Aos que apoiaram, a iniciativa foi bem recebida, mostrou que a primeira-dama estava preocupada em incluir, em se comunicar com todos e, consequentemente, o ato passou a simbolizar um passo rumo à inclusão, à equiparidade de direitos, à criação de políticas públicas voltadas a quem precisa de acessibilidade. Para essas pessoas, a atitude da primeira-dama permitiu que o idioma fosse visto não só como um “plus” no evento, mas também como uma necessidade de integrar e interagir com a comunidade surda.

Já para quem se opôs, a atitude soou em tom de oportunismo, pois, enquanto Michelle discursava em Libras para todo o país, o novo ministro da Educação, Vélez Rodriguez, acabava com a secretaria que cuidava da educação dos surdos. Apesar de paradoxal, creio que graças ao discurso bilíngue as pessoas que estão contra as atitudes do novo governo não só criticaram a ação do ministro, como passaram a questionar o futuro da população surda pelos próximos anos.

Apesar de estar confusa com a extinção da secretaria, preciso dizer que me sinto esperançosa por imaginar que, a inclusão, seja pela vontade da primeira-dama ou pela pressão popular, de alguma forma, vai acontecer. 

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