Ninguém, absolutamente ninguém, poderia prever a atual situação. De 2013 para cá, descemos a ladeira. Com a pandemia, a gravidade da crise tomou proporções inimagináveis. Temos desemprego de dois dígitos e crescendo, dólar nas alturas, queda dramática do Produto Interno Bruto (PIB), saída de investimento externo, investimento público quase zero, déficit e dívida pública crescentes.
E continuamos. Como diz o ditado, para alcançar um resultado diferente, faça diferente. É exatamente o que não fazemos. A aposta tem sido sempre mais radicalização, mais conflito, mais intolerância, menos diálogo e menos concertação. A esta altura, para qualquer pessoa de bom senso, já deve estar claro: não vai dar certo.
A pergunta é: se parece óbvio para a maioria das pessoas e dos líderes, por que não paramos de cavar? E pior: estamos fazendo uso até, literalmente, de retroescavadeiras, como no triste episódio envolvendo policiais ilegalmente em greve e a reação temerária do senador Cid Gomes, no Ceará.
O país pede responsabilidade. E como isso tem faltado! A divulgação de uma reunião oficial no Palácio do Planalto, entre o presidente, ministros e presidentes de estatais, escancara a ausência de políticas públicas para a solução dos problemas concretos do cidadão. Quase nada a respeito da saúde e da educação, nenhuma palavra relevante acerca do apoio aos pequenos e médios empresários. Nenhuma referência digna de nota sobre as vítimas da Covid-19 e a dor de seus familiares.
Apenas arroubos retóricos, sob o signo da irresponsabilidade, da mediocridade e da ausência de planejamento.
É verdade que ações pontuais gestadas no Executivo, com o apoio do Legislativo, ajudaram a minorar o sofrimento e as perdas brutais. Mas é a luta diária de empregados, empresários e servidores públicos que permite a manutenção dos serviços essenciais, a expectativa de uma safra recorde e que o país continue com esperança, apesar de tudo.
Com criatividade, perseverança e resiliência de milhões de brasileiros, as coisas não saíram, ainda, totalmente do controle.
De forma preocupante, apesar do esforço de milhões de heróis anônimos, os conflitos parecem sair das redes sociais e das instituições para as ruas. Algo explosivo, num país de dezenas de milhões de desempregados e problemas estruturais gigantescos e, notadamente, agravados por uma gestão temerária diante de uma pandemia mundial.
É a marcha da insensatez. Estamos a passos largos comprometendo o futuro do país, provavelmente por anos ou mesmo décadas. Esqueçam 2022, as manifestações autoritárias e ajudem o Brasil. Larguem a retroescavadeira! Paremos de cavar!