Thiago Camargo

Não temos tempo a perder

Trabalho, diálogo e compromisso com a vida

Por Thiago Camargo
Publicado em 20 de maio de 2020 | 03:00
 
 
 
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Temos assistido nos últimos anos uma crescente radicalização de setores da sociedade. O fenômeno, de natureza aparentemente global, tem sido observado no Brasil de uma maneira até certo ponto surpreendente. A ideologia extremada cega as pessoas dificulta a tomada de decisões e tem influenciado enormemente o governo do atual presidente da República.

No primeiro ano de mandato, independentemente de discordâncias, ideologias e opiniões que cada brasileiro possa ter em relação ao governo, tínhamos algum rumo, e o núcleo ministerial parecia relativamente estruturado e comprometido com um projeto liberal na economia. Apesar das frases e dos comportamentos irresponsáveis do presidente e de sua família, da existência de alguns ministros sem qualquer preparo para o cargo e de resultados ainda incipientes na economia, era inegável que havia muita esperança, ainda que misturada a certo ceticismo e uma boa dose de preocupação com os rumos do país.

Sempre foi necessário que o presidente rompesse com a radicalização e cessasse com as falas autoritárias. Sempre foi e é imprescindível dialogar, governar para todos e entender que o Brasil é um país complexo, no qual federalismo, presidencialismo e sistema eleitoral com representação proporcional convivem num sistema de pesos e contrapesos, próprio das democracias liberais representativas. A limitação ao poder do presidente – e de todos os governantes – é natural, saudável e parte essencial do sistema político a que estamos submetidos.

A pandemia agravou muito a situação e suas consequências. A troca de ministros, as ofensas gratuitas, a falta de coordenação política e o choque com o Poder Judiciário e com os demais entes federados impactaram sobremaneira o governo, no momento em que mais precisávamos de liderança, coordenação e capacidade decisória. Os danos são reais e profundos. Os perigos de uma convulsão social e de desorganização da economia aumentam de maneira preocupante.

Nada do que acontece na democracia brasileira é muito diferente do restante dos países e segue as mais bem-sucedidas democracias representativas do mundo. Aperfeiçoamentos são, obviamente, necessários, mas a saudade de um passado que nunca existiu é uma grande ilusão. As experiências autoritárias já demonstraram à exaustão os desastres que causaram – e ainda causam – aos países, às sociedades e aos cidadãos.

Não é hora para aventuras. Não existe caminho que não seja dentro dos cânones da democracia representativa, da garantia dos direitos individuais e da normalidade institucional. Só iremos superar os desafios atuais com muito trabalho, diálogo e compromisso com a vida, dentro de uma sociedade aberta, plural, democrática e para todos. Ainda temos tempo para salvar muitas vidas. Não temos tempo a perder.

Thiago Camargo é advogado; sócio do escritório Marcelo Guimarães Advogados e da Sinapse Consultoria e Projeto

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