Thiago Camargo

Reformas, populismo e crise

É necessário repactuar os gastos públicos


Publicado em 10 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

O presidente Bolsonaro procurou sempre preservar sua popularidade e nunca fez qualquer ação efetiva em defesa de medidas de austeridade. Desde sempre, todas as ações do presidente foram voltadas para a manutenção de sua base política e social, mesmo em momentos capitais, como na pandemia, em que editou a Medida Provisória 971/2020, concedendo aumento retroativo para policiais do Distrito Federal.

A reforma da Previdência foi um marco, sem dúvida, mas já contava com relativo apoio popular e do Congresso Nacional. Mesmo assim, o presidente atuou para que fosse politicamente palatável, preservando as categorias que lhe convinham, e contando com um Congresso pró-reformas de mercado, como nunca se viu.

Pode-se alegar que se trata de uma virtude, decorrente de sua habilidade política e enorme instinto de sobrevivência, na medida em que conseguiu aprovar reformas, sem comprometer sua base eleitoral. Entretanto, com os profundos estragos decorrentes da pandemia e a situação em que o Brasil se encontra, precisaremos de muito mais.

Os efeitos sociais e econômicos da pandemia serão desnudados agora. Com a diminuição dos incentivos e recursos destinados para cidadãos, empresas e governos, o país terá que enfrentar a dura realidade. Mais endividado, com a economia mais fraca e muita incerteza no Brasil e no mundo, vamos precisar de liderança. Precisaremos arbitrar conflitos, sobretudo no que se refere ao Orçamento público e às medidas de política econômica a serem implementadas.

Na última década, o mundo cresceu relativamente muito, e nós ficamos parados. Estamos perdendo tempo. Perdemos uma década. Não podemos ir para o caminho do populismo, do gasto indiscriminado e do radicalismo.

Poucas vezes foi tão importante o que faremos no tempo presente. O anúncio do Renda Brasil – ou o nome que se queira dar – ao programa de transferência de renda do governo foi um péssimo prenúncio do que teremos pela frente. Incapacidade administrativa, falta de visão de futuro, irresponsabilidade fiscal e ausência de boas políticas públicas. Não por acaso, a reação do mercado e dos analistas foi tão ruim.

Não será assim que sairemos da maior crise sanitária dos últimos cem anos. É necessário repactuar os gastos públicos, cortar privilégios nos setores público e privado, acabar com desperdícios e arbitrar os perdedores de curto prazo. Não há mais espaço e tempo para erros. Não há espaço para falsas dicotomias. Responsabilidade fiscal, responsabilidade social e responsabilidade ambiental são congruentes e interligadas.

O presidente precisa rapidamente construir um consenso mínimo em torno das políticas públicas necessárias nas áreas econômica, social e ambiental, sob pena de sofrermos um grave retrocesso.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!