Eu estava lendo um poema. De repente observei que meus cães Folgado e Toró sentaram- se e começaram a prestar atenção. Também o Mimi, meu gatinho, se aconchegou no meio deles para me ouvir. Continuei. Eles continuaram atentos. Observei que do alto da árvore também um pássaro calou o seu cantar para me ouvir. Peguei o jornal e li uma notícia. Eles estavam de olhos fixos em mim. Aí fechei o jornal e comecei a contar uma história inventada na hora.

Era uma vez um cão e um gato. Eles eram inimigos. O gato pulava no quintal da casa onde vivia o cão. Este, como bom vigilante, corria atrás do gato. O gato alcançava com esperteza o muro e lá, ciente de sua segur a n ç a , c a m i - nhava até perto de um telhado para onde saltava. O cão ficava irritado e latia desesperadamente.

Folgado e Toró que até então estavam apenas prestando atenção resolveram interferir. Primeiro foi Folgado: "Será por quê este cão não gosta do gato?"

"Não sei", respondi. "Acho que deve ser apenas um instinto de defesa."

E Toró disse: "Nós aqui gostamos muito do Mimi, é bem verdade que ele dá seus passeios pelos telhados, mas sempre volta para comer e dormir com a gente." Chegou a hora de Mimi falar: "Acho que este é um cão ranzinza, não é bom como vocês dois." E o pássaro curioso pediu: "Conte o resto da história, estou ansioso para saber o final!"

O dono do cão resolveu que o apresentaria ao gato e que não queria saber mais de brigas entre eles. Ele colocou um prato com carne temperada com alho, cebola e pimenta perto de uma janela. O gato sentiu o cheiro de longe e caiu na armadilha. Assim que ele entrou o homem fechou a janela. Deixou o gato comer toda a carne e depois o conquistou até pegá-lo no colo.

Levou-o à presença do cachorro que rosnava e lhe mostrava os dentes. O gato miava com medo e tentava arranhar o homem. Este foi aos poucos tranqüilizando os animais, passando a mão carinhosamente na cabeça deles até que o cão resolveu aceitar a presença do gato. Cheirou-o sem ameaças. O gato lambeu o focinho dele e assim selaram amizade. E era uma vez um cão e um gato inimigos.

Folgado e Toró latiram como que agradecendo pela história. O miado dengoso de Mimi parecia dizer: "Conte de novo!" E o pássaro cantou no alto da árvore querendo me aplaudir.

Entrou por uma perna de pato, saiu por uma perna de pinto. Quem quiser que conte mais cinco.


Irlanda Gino é escritora, autora de livros infantis e colaboradora de O TEMPINHO. Para bater um papo com ela, basta mandar um e-mail para isgino@ gmail.com.