Você provavelmente sabe o nome dos seus avós. Talvez saiba também o nome de seus bisavós, pelo menos de alguns. Mas dificilmente saberá quem eram e o que faziam seus tetravós. Em busca dessa origem perdida, muitas pessoas recorrem à árvore genealógica, uma ferramenta das ciências humanas que se assemelha a um álbum de família comentado. O desejo de saber de onde viemos - já que não é possível prever para onde vamos - parece ser tão antigo quanto a história da humanidade.

Para o antropólogo e coordenador do Observatório da Diversidade Cultural da Universidade Católica de Minas Gerais, José Márcio de Barros, a busca da origem está ligada à necessidade de encontrar a própria identidade. "A palavra origem quer dizer ponto de partida, procedência. Mas as identidades no mundo de hoje são múltiplas, híbridas. Então, saber o ponto de partida ajuda a gente se localizar nesse maremoto da diversidade", afirma.

José Márcio acredita que a crescente busca por informações sobre os ascendentes é uma reação à experiência cultural globalizada, onde o indivíduo tem cada vez mais possibilidades de ir ao encontro do desconhecido sem os limites das fronteiras. "Um mundo onde a pessoa encontra tanta coisa desconhecida acaba gerando uma necessidade de saber de onde viemos, saber quem são os nossos iguais", diz.

Hoje o estudo de parentesco deixou de ser algo complexo e está acessível aos pobres mortais graças à Internet. Diversos sites oferecem o serviço gratuitamente, bastando ao usuário disposição para a pesquisa e alimentação da árvore. Como os sites de relacionamentos, eles permitem que dados da história da família, informações pessoais e fotos de cada membro sejam acrescentados à árvore genealógica.

História oculta

Leandro Pereira, 31, começou há pouco tempo a participar do projeto de uma prima de descobrir as próprias origens. "Estou adorando fazer a pesquisa porque para montar a árvore genealógica acabei tendo mais contato com tios e primos, muitas vezes distantes pela vida diária corrida e descobri muitas histórias perdidas no tempo - ou ocultas algumas vezes", conta.

Foi com a ajuda da família - até mesmo de tias-avós que não fazem a menor idéia do que seja navegar na Internet - que Leandro conseguiu recuperar parte da história da família Fonte Boa. Uma parte da família veio de Portugal, de uma cidade chamada Fonte Boa, e ao chegar no Brasil em meados de 1808, instalou-se em Minas Gerais, na região de São Gotardo e Carmo do Cajuru. Ao chegar ao país, a família adotou o nome da cidade de origem - Fonte Boa - como novo sobrenome.

Hoje é possível encontrar ramos da família Fonte Boa em Belo Horizonte, Divinópolis, Matutina, São Paulo, Rio de Janeiro e São José dos Calçados (ES). "Minha árvore genealógica já possui mais de 500 parentes próximos e mais de 500 aparentados. Hoje contamos com 1.094 membros, sendo que 40 são membros ativos, que agora me ajudam na construção da árvore", avalia Leandro.

Mateus Folate Pereira Amorim é outro que busca reconstruir sua origem. "Saber quem foram nossos antepassados foi o que mais motivou a construção da árvore", diz Mateus. "Para mim, saber a origem dos meus antecedentes é resgatar a minha própria história, é saber de onde vim tendo como referência por onde eles passaram", explica Mateus, que contabiliza 726 parentes na árvore de sua família mantida no site meusparentes.com.br.