Instado a falar sobre “Diário da Piscina” (Ed. É Selo de Língua), seu mais recente livro – que será lançado este mês em BH –, Luís Capucho opta por, inicialmente, recorrer ao título que marcou sua estreia na escrita, em 1999: o elogiado “Cinema Orly”.
“Naquela época, como achava que ia morrer, dei um grande mergulho (na escrita). Tão profundo que, na verdade, quase esqueci de mim mesmo. Já em ‘Diário da Piscina’, que surge dos registros que fiz logo após ‘Orly’, e como parte dos esforços que fazia para me recuperar, o ‘drama’, no caso, é mais do leitor. Nele, enquanto vou contando as histórias, entendo que a viagem é mais de quem está lendo”, explica.
Em sua fala, Capucho se reporta a um episódio-baliza em sua trajetória. Em 1996, ele entrou em coma, devido a uma neurotoxoplasmose. Até aí, o artista de Cachoeiro do Itapemirim (mesma cidade de Roberto Carlos e Sérgio Sampaio), mas radicado em Niterói, onde estudava Letras, apostava suas fichas na música, cantando e compondo.
Ao recobrar a consciência do coma, mas tendo que lidar com as sequelas físicas e psicológicas e, ao mesmo tempo, com a revelação de ser portador do vírus HIV, Capucho estreou na literatura com o citado “Cinema Orly”, livro de temática confessional, visceral, que lhe rendeu inclusive o prêmio Arco-Íris de Direitos Humanos, pela temática LGBT. Sua bibliografia inclui, ainda, “Rato” (2007) e “Mamãe Me Adora” (2012).
Como parte da reabilitação pós-coma, ele passou a frequentar a piscina que agora é citada no título do novo livro. Detalhe: o relato parte do diário real, escrito pelo artista entre 2000 e 2001 – lembrando que até hoje ele segue com as aulas.
“Embora tenha essa metáfora da imersão, ‘Diário da Piscina’ é um livro no qual não mergulho tanto, é mais uma contação de história”, define. Embora o diário tenha sido o ponto de partida, o texto, claro, foi reelaborado para o livro, com os personagens que orbitavam na academia recebendo nomes “de pessoas que viveram na Roma Antiga”, como Claudio. Em cena, professores de corpos moldados pela atividade física dividem espaço com o senhor que necessita que outros o coloquem na água, assim como a senhora rica, a cadeirante... Uma fauna que compõe um microcosmo permeado por nuanças.
Cumpre dizer que, após lançamentos no Rio e São Paulo, Belo Horizonte é a terceira capital a receber a sessão de autógrafos, que vai contar ainda com um pocket-show de Capucho. “Para o repertório, escolhi músicas que têm a ver com o ‘Diário’, bem como as mais recentes”, avisa.
A boa relação de Capucho com Minas já vem de alguns anos, e se solidificou quando ele lançou uma campanha de financiamento coletivo pela plataforma mineira Variável 5, para seu disco “Poema Maldito”. “Minha aproximação com a capital mineira aconteceu muito através do João Santos (jornalista e curador do Variável, que, atualmente, está em suspenso). Fiquei superfeliz com o resultado do crowdfunding”, avalia ele, que, atualmente, prepara o disco “Crocodilo”.
Luís Capucho
Espaço 171 (Rua Capitão Bragança, 75, Santa Tereza). Dia 9 (sábado), às 16h30. R$10 (inteira). Após a apresentação, bate-papo e sessão de autógrafos.