A paisagista Carol Costa traz na ponta da língua uma série de estudos que atesta o benefício do convívio com as plantas. Na verdade, ela mesma é um exemplo: anos atrás, exercendo a profissão na qual se graduou (jornalismo), constatou que estava triste. “Sentia uma claustrofobia”, diz, lembrando que esse sentimento é, nos dias atuais, frequente nas urbes. “As pessoas estão cada vez mais engaioladas”, diz. Carol trocou de profissão e, no último dia 11, estreou o primeiro programa exclusivo sobre jardinagem no país em muitas décadas: “Louca das Plantas”, no canal GNT. A iniciativa, na verdade, reverbera uma febre em alta. A onda verde ressuscitou até a antes combalida samambaia. Fez a costela-de-adão virar mania e acendeu a vontade de ter uma horta em casa.
O mais recente desdobramento são os plant influencers, gente que acumula likes nas redes com fotos e dicas de plantas. Para Carol, trata-se de um dos hobbies mais acessíveis que existem: “Você pode iniciá-lo com sementes, um bocado de terra, água e um potinho”. O paisagista Felipe Fontes completa: “Você começa com uma (planta) e, quando vê, está com quatro, cinco. Daí, frequentar floriculturas e feiras vira algo prazeroso. Você começa a pesquisar o tema na internet e vira o assunto na roda com os amigos”, diverte-se.
Ele tem a anuência da colega Nana Guimarães. “Quando comecei a propor jardins verticais, há 13, 14 anos, alguns diziam que a moda – que, na verdade, já havia chegado ao Brasil com atraso – não ia durar, mas, ao contrário, só vem aumentando”, diz ela, que lembra que a própria redução gradativa de espaço nos apartamentos favorece a opção pela verticalização.
Experiências. O contato de Débora Rezende com as plantas começou na infância: “Minha mãe tem uma floricultura em Lagoa da Prata, e acabei aprendendo bastante”. Já formada em arquitetura, a moça integrou o coletivo Planta, que desenvolvia projetos sob o viés da agroecologia. Não bastasse, chegou a vender plantinhas em suportes de macramê. “Agora, estou voltando para Lagoa para justamente trabalhar com paisagismo”, diz ela, que sempre cultivou o verde em casa – algumas plantas, porém, foram destruídas após a adoção de gatinhos.
A jornalista Giselle Ferreira foi outra a ter a paixão acesa na infância – no caso, graças aos avós, em João Monlevade. Para BH, ela veio de mala, cuia e plantas. Hoje, calcula ter umas 20. “Só não tenho mais por falta de espaço”, ri ela, que por vezes não se furta a conversar com algumas, como a “anciã” árvore da felicidade, que veio do interior. “É engraçado ver fotos antigas, porque ‘engordou’ e hoje quase bate no teto”, conta.
Para começar sua floresta em casa
Suculentas. Uma boa dica é começar por elas. São fáceis de cuidar e só devem ser regadas quando a terra estiver bastante seca.
Aposte nas folhagens. A escolha de plantas mais verdes, com troncos e folhas, é uma boa opção, pois não necessitam de muita exposição ao sol. Bons exemplos são a espada de São Jorge, as bromélias e algumas palmeiras.
Luminosidade. É preciso ficar atento se o ambiente que receberá as plantas é ventilado e tem iluminação suficiente.
Cuidados. Atenção também às necessidades de cada espécie. Se precisam ou não de rega constante, adubação e insolação.
Jardins suspensos. Bons para ambientes muito pequenos. O mercado oferece suportes variados e estilosos e as melhores plantas para serem penduradas ao teto são as samambaias, jiboias e suculentas.
‘Garden killers’ podem, sim, buscar a redenção
Entusiasmo, seu nome é Carol Costa. A apresentadora do “Loucas das Plantas” logo avisa: “Mesmo se você já fez as vezes de um ‘garden killer’, pode se redimir. Não existe dedo podre! Não creio em dedo verde, mas também não em mão ruim. O que existe é falta de informação – e, então, é moleza, né?”. Ré confessa, ela diz que já assassinou “centenas de orquídeas e outras plantas” por excesso de adubo, falta ou excesso de água, por colocar no sol a planta de sombra, e vice-versa. “A gente mata com a melhor das intenções”, explica.
Quanto ao perfil de pessoas interessadas no tema, ela diz que, em seu site, registra 80% de público feminino, na faixa de 25 a 45 anos: “Mas tenho desde adolescentes e crianças (tem um menino que desde os 4 anos me segue) até o público sênior. Tive uma aluna de 103 anos – como digo, a jardinagem está ao alcance de todos”.
Como Débora e Giselle, a afinidade de Carol com as plantas foi “culpa” da família, que é de Araraquara, interior de São Paulo. “Como toda estudante, ia levar roupa para lavar na casa da minha mãe, e ela colocava mudas na minha bolsa. Morando em república, ficava aflita tendo que cuidar de um monte de potinhos de iogurtes. Por outro lado, esse vínculo me ajudava a sobreviver na selva de pedra – começou a ser questão de honra que aquelas coisas verdes ficassem vivas. Era como ter a minha família por perto”, diz.
E Carol penou. “À época, a maioria dos livros no mercado era de europeus e norte-americanos e tratava de plantas de clima temperado. Não tinha youtubers, aprendi no acerto e erro”, explica. Hoje, ela diz ter 30 vasos só na sala – “alguns, com mais de uma espécie”. A moça diz que sua varanda está “infotografável”. “E, sim, ainda perco algumas. Às vezes, por praga. Mas seguimos firmes e fortes”, garante.