O varejo brasileiro começa 2025 tímido, com uma retração de 0,1% nas vendas do setor em janeiro. Em contrapartida, cresceu 4,7% no último ano. São Paulo se destaca, registrando recorde de faturamento no setor de R$ 1,42 trilhão em 2024, um aumento de 9,3% em relação ao ano anterior. Afinal, vale a pena investir no varejo em 2025?
Mesmo com desafios econômicos, algumas empresas do setor estão se recuperando na Bolsa. A Magazine Luiza, por exemplo, saiu do prejuízo e registrou um lucro líquido recorrente de R$ 277 milhões em 2024. No entanto, essa recuperação pode ser ameaçada se a Selic permanecer elevada por muito tempo.
Não que eu acredite que reduzir os juros seja a melhor solução para o país. O IPCA, índice que mede a inflação, registrou um aumento de 1,31% em fevereiro – o maior para o mês em mais de duas décadas. No acumulado de 12 meses, a inflação ultrapassou os 5%, acima do teto da meta do Banco Central, que é de 4,5%. Faz sentido que o custo do crédito continue elevado.
Por outro lado, as medidas para conter a inflação deveriam ser acompanhadas por corte de despesas e redução tributária. Sem poder de compra para as famílias, a recuperação do setor tende a ser mais lenta e desigual.
O peso dos juros altos no varejo
O varejo depende fortemente de crédito, tanto para os consumidores financiarem suas compras quanto para os empresários investirem em seus negócios. Com a Selic em 13,25% e previsões de alta para 15% ao ano, o acesso ao crédito tende a piorar.
A presidente do Conselho de Administração do Magalu, Luiza Trajano, chegou a pedir publicamente ao Banco Central que interrompa o aumento da Selic, argumentando que os juros altos comprometem a sobrevivência de pequenos e médios negócios. Para as grandes redes, o desafio já não é vender, mas manter a lucratividade em um ambiente onde o financiamento se tornou um fardo.
Outro fator preocupante é o impacto das apostas online no consumo das famílias. Em 2024, o varejo brasileiro deixou de faturar cerca de R$ 103 bilhões devido ao redirecionamento de recursos para o mercado de bets. Além disso, 1,8 milhão de pessoas ficaram inadimplentes ao comprometerem sua renda com jogos. Esse comportamento pode representar um risco adicional para o comércio, que depende da estabilidade financeira dos consumidores para continuar crescendo.
O que esperar do futuro?
O varejo brasileiro chegou a crescer no acumulado de 2024. No entanto, os desafios permanecem. Juros altos, perda de renda das famílias e incertezas econômicas impactarão o setor nos próximos meses.
Na Bolsa de Valores, algumas empresas do varejo mostram recuperação, mas o cenário ainda é instável. A continuidade da alta da Selic pode dificultar novos avanços, enquanto um alívio nos juros poderia dar novo fôlego ao setor.
Se o consumo seguir aquecido, há espaço para crescimento. No entanto, se o crédito continuar caro e o endividamento das famílias aumentar, o varejo pode sofrer uma desaceleração, como registrado em janeiro. O momento exige cautela, mas também abre oportunidades para quem souber se adaptar às novas condições do mercado.