Uma pesquisa Datafolha revela que 58% dos brasileiros reduziram o consumo de alimentos devido à inflação. Além disso, 61% estão saindo menos para comer fora e 49% diminuíram o consumo de café. Em meio ao aperto no orçamento, como negócios que dependem desses consumidores estão lidando com essa realidade?

Os dados mais recentes do IBGE mostram que a inflação acumulada em 12 meses até março foi de 5,48%, com uma alta mensal de 0,56%. O grupo de alimentação e bebidas foi o principal responsável por essa elevação, registrando um aumento de 1,17%, acima dos 0,70% de fevereiro.

Entre os itens que mais pressionaram os preços, destacam-se o tomate, com alta de 22,55%, o ovo de galinha, que subiu 13,13%, e o café moído, com um aumento de 8,14% no mês. No acumulado de 12 meses, esses produtos tiveram variações de 0,13%, 19,52% e 77,78%.

Para as franquias, essa mudança exige atenção redobrada e decisões ágeis. O desafio é continuar oferecendo qualidade e experiência, sem perder competitividade no preço.

Planejamento e inovação para equilibrar as contas

Wilton Bezerra, CEO da rede de cafeterias Cheirin Bão, explica que a empresa conseguiu se planejar para a alta: "Nós percebemos uma grande variação no café e compramos bastante estoque. Assim, conseguimos realizar apenas um reajuste de preço neste período de alta".

Ele também conta a empresa apostou em inovação: “Se a gente ficar parado, olhando só para um produto que está sofrendo variação, a tendência é que os resultados piorem.” Segundo Bezerra, o faturamento da Cheirin Bão registrou um crescimento de cerca de 15% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano anterior, apesar da alta nos preços dos alimentos.

Outro ponto que contribuiu para esse resultado foi o aumento no investimento em marketing. De acordo com Bezerra, a rede ampliou sua presença na televisão com campanhas em rede nacional, além de estabelecer parcerias com influenciadores e participar de podcasts de grande audiência.

Taxa de juros pode afetar crescimento

Para controlar a inflação, o Banco Central aumentou a Selic, que é a taxa básica de juros, atualmente em 14,25%. Essa taxa funciona como referência para os juros de empréstimos e financiamentos, além de influenciar o consumo e os investimentos.

Com a Selic mais alta, o crédito fica mais caro, e o consumo é desestimulado, ajudando a conter os preços. Por outro lado, isso pode dificultar o crescimento de setores que dependem de capital e consumo, como franquias e pequenos negócios.

Esse cenário desacelerou a expansão da Cheirin Bão, explica o CEO da marca. Ainda assim, uma das estratégias adotadas pela empresa é justamente investir em crescimento nos momentos em que outras recuam. A ideia é ganhar vantagem competitiva ao avançar quando a concorrência está retraída. Esse posicionamento, embora arriscado, é visto como uma oportunidade para consolidar a marca no mercado e se preparar para uma eventual retomada econômica.

Franquias em tempos de crise

Investir em uma franquia durante cenários de incerteza econômica pode parecer arriscado, mas também revela oportunidades para empreendedores com a mentalidade certa. De acordo com Wilton Bezerra, que também está à frente da Escola do Franchising, é preciso adotar uma visão estratégica e voltada para soluções internas. Para ele, olhar exclusivamente para os problemas não traz resultados; o foco deve estar nas alternativas que podem ser encontradas dentro da estrutura existente.  

Bezerra destaca que, em momentos de dificuldade econômica, como o atual cenário de juros altos, o empreendedor deve otimizar os recursos disponíveis. Com alavancagem financeira mais difícil no Brasil devido à Selic elevada, a solução está em fazer o melhor com o que já se tem. Melhorias internas podem gerar impactos significativos, muitas vezes ignorados enquanto se busca soluções externas mais custosas. “É justamente em momentos como esse que surgem boas oportunidades”, conta.