Mesmo antes de entrar em vigor, a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros já provoca efeitos práticos na cadeia produtiva da carne bovina e do suco de laranja. A medida, prevista para o dia 1º de agosto, tem gerado reações no setor privado brasileiro e levou uma empresa americana à Justiça para tentar barrar a taxação.
No segmento de proteínas, a incerteza em relação ao acesso ao mercado norte-americano provocou retração imediata na demanda. Com a interrupção de pedidos internacionais, exportadores e processadores reportam congelamento de investimentos e reavaliação de planos de produção. A antecipação do impacto gera um movimento de realocação da oferta ao mercado interno, com tendência de queda nos preços no curto prazo.
A expectativa, no entanto, é de que esse alívio seja temporário. Com menor previsibilidade e margens comprimidas, agentes do setor avaliam a possibilidade de redução de abates e desaceleração do ciclo produtivo, o que pode afetar o abastecimento futuro e a manutenção de empregos no setor.
Laranja mais cara
Nos Estados Unidos, uma das maiores importadoras de suco de laranja, a Johanna Foods, protocolou ação na Corte de Comércio Internacional questionando a legalidade da nova tarifa. A empresa, sediada em Nova Jersey, calcula que a medida pode gerar aumento anual de até US$ 68 milhões nos custos operacionais, com repasse estimado de até 25% nos preços ao consumidor final.
Na ação, a distribuidora argumenta que os fundamentos utilizados pelo governo norte-americano, como a relação do Brasil com o ex-presidente Jair Bolsonaro, não configuram justificativa econômica ou de segurança nacional suficiente para uso de poderes emergenciais. A defesa do governo Trump, por meio de porta-voz, sustenta que a medida se apoia em prerrogativas constitucionais e tem como objetivo proteger o mercado de trabalho e a indústria doméstica.
O impacto no setor brasileiro de sucos é expressivo. Os Estados Unidos representam cerca de 42% das exportações brasileiras de suco de laranja, e não há mercado de substituição capaz de absorver esse volume no médio prazo, segundo a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos). A eventual perda de competitividade no mercado americano acende um alerta para o escoamento da produção e para a sustentabilidade financeira das empresas do setor.
Mundo inteiro na mira
Além do Brasil, outros países têm sido alvo de medidas similares, e novas disputas comerciais tramitam em cortes norte-americanas. A própria Corte de Comércio Internacional avalia, paralelamente, questionamentos sobre o fim de isenções para importações chinesas de baixo valor, também decididas durante o governo Trump.
No Brasil, a percepção entre executivos e analistas é que, embora os efeitos imediatos sejam relevantes, o maior risco está na perda estrutural de acesso a mercados estratégicos e na consequente desorganização de cadeias produtivas fortemente voltadas à exportação. A recomposição de fluxos de comércio, caso a tarifa seja mantida, dependerá de diversificação de destinos, recomposição de margens e negociação diplomática.