O Pix gerou uma economia estimada em R$ 106,7 bilhões para empresas e consumidores no Brasil desde seu lançamento, em novembro de 2020, até junho de 2025, segundo levantamento do Movimento Brasil Competitivo (MBC) com base em dados do Banco Central. O cálculo considera a substituição de operações sujeitas a tarifas, como TED e pagamentos no débito, pelo uso do sistema de transferências instantâneas.
O impacto financeiro vem acompanhado de repercussões externas: o governo dos Estados Unidos abriu investigação sobre práticas comerciais brasileiras, citando possíveis vantagens para serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo Estado.
A redução de custos decorre principalmente de dois fatores: queda no número de TEDs, que antes do Pix custavam em média de R$ 9 a R$ 16 por operação, e maior uso do Pix no comércio no lugar do débito, que implica taxas para lojistas. Antes de 2020, um usuário que realizasse quatro TEDs por mês podia gastar entre R$ 450 e R$ 720 ao ano apenas com tarifas, valor que deixou de existir para a maior parte das transações entre pessoas físicas.
Economia com Pix cresce em 2025
Somente no primeiro semestre de 2025, a economia gerada pelo Pix foi de R$ 18,9 bilhões, ritmo superior aos anos anteriores. O MBC projeta que, mantida a adesão atual, o sistema poderá gerar R$ 40,1 bilhões em economia anual até 2030. Entre as novas funcionalidades já implementadas pelo Banco Central estão o Pix Saque, o Pix Troco e o Pix Automático. Está em estudo o Pix Garantido, que permitirá parcelamentos e poderá competir com o crédito parcelado no cartão.
O avanço do Pix alterou a composição dos meios de pagamento no país. No primeiro trimestre de 2025, o sistema respondeu por 49% das transações, enquanto o cartão de crédito ficou com 14%, segundo o Banco Central. Embora o número de operações com crédito e débito continue crescendo — 11,2% e 3% respectivamente em 2024 frente a 2023, segundo a Febraban —, o ritmo é inferior ao aumento de 52% registrado pelo Pix no mesmo período.
Pix na mira de Trump
A rápida expansão chamou atenção no exterior. Em julho, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) iniciou investigação sobre supostas práticas discriminatórias em serviços de pagamento eletrônico no Brasil. O documento não cita nominalmente o Pix, mas especialistas avaliam que a medida pode estar relacionada ao impacto da ferramenta sobre empresas americanas do setor, como Mastercard e Visa, e sobre big techs com serviços financeiros, como a Meta.
Segundo especialistas, o Pix não interfere diretamente nas transações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, mas reduz a concorrência para plataformas como o WhatsApp Pay. Defendem ainda que a investigação pode servir para defender interesses do setor bancário americano.
O MBC aponta ainda efeitos indiretos do Pix, como estímulo à formalização de pequenos negócios e ampliação da inclusão financeira. O relatório também sugere debate sobre a governança do sistema, hoje operado e regulado pelo Banco Central, questionando a sustentabilidade do modelo de gestão centralizada no longo prazo. Experiências de outros países, como Índia, Reino Unido e Suécia, mostram que a concentração de operação e regulação em uma única instituição não é comum no cenário internacional.
Por que o Pix tem baixo custo para os bancos?
O Pix funciona em uma infraestrutura centralizada, operada pelo Banco Central, que conecta diretamente as instituições financeiras. Diferente de transferências antigas, como TED e DOC, ele não exige intermediários caros nem compensações demoradas.
Além disso, as transações acontecem em segundos e com custos operacionais mínimos. Os bancos não precisam mobilizar equipes para processar pagamentos, nem gastar com manutenção de estruturas físicas ligadas a esse serviço. O sistema também permite que milhões de transações sejam feitas ao mesmo tempo sem travar, o que dilui ainda mais os custos.