No final da semana passada, o descontentamento do PV com o PT, parceiro na Federação Brasil da Esperança junto ao PCdoB, foi trazido à tona por uma das figuras de relevância da sigla em Minas Gerais, a deputada estadual Lohanna França. Em entrevista ao Café com Política, da FM O TEMPO 91,7, na semana passada, a parlamentar expressou sua insatisfação com as escolhas de candidatos feitas pelo PT para prefeituras no Centro-Oeste mineiro, sua região de origem, e também manifestou o desejo de que sua sigla deixe a federação em 2026, quando termina o prazo mínimo de quatro anos de permanência determinado por lei. Nos bastidores, outras figuras do partido compartilham insatisfações, mas evitam trazer o assunto à público por ora.

Durante o Café com Política, Lohanna expôs algumas de suas queixas: “na minha região, por exemplo, a maior parte em que os candidatos do PT foram lançados com muita frequência contra o que a gente pensava que fosse o melhor, e peitando a posição que o Partido Verde tinha nos municípios, os candidatos tiveram 1% dos votos, 1,5% dos votos”, pontuou.

Segundo interlocutores do PV, o desejo do partido na região era que a federação apoiasse candidatos mais viáveis em cidades como Itapecerica, Carmópolis de Minas e Nova Serrana, localizadas no Centro-Oeste do Estado, onde os candidatos do PT - que representam toda a federação - ficaram em último na disputa pela prefeitura. Em Bom Despacho, onde o PT obteve a maior votação proporcional e absoluta entre as quatro cidades, com 2,96% e 794 votos, respectivamente, o candidato petista terminou em penúltimo lugar, entre nove concorrentes. Para a campanha, ele recebeu R$ 79.102,00 da direção estadual do PT e R$ 11 mil da direção nacional do PCdoB - que indicou o candidato a vice - totalizando mais de R$ 90 mil em gastos do Fundo Partidário.

Lohanna afirmou ainda que o caminho desenhado para 2026 é o PV se separar do PT e seguir outro rumo. As federações partidárias foram criadas no Brasil em setembro de 2021, na reforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional, e permite que dois ou mais partidos se unam para atuar de forma unificada durante as eleições e na legislatura consequente, devendo permanecer com essa união por, no mínimo, quatro anos. No caso da Federação Brasil da Esperança, o prazo se encerra daqui a dois anos.

“Essas conversas já estão acontecendo. A federação, oficialmente, dura até 2026, mas, nesse momento, os Estados já conseguiram fazer o seu saldo, já conseguiram entender onde foi bom, onde foi ruim, quem teve vantagem com a federação, quem não teve, e essas conversas acontecem permanentemente”, disse. “Eu tenho certeza e desejo que, se o fim da federação de fato acontecer, que é o que parece que está muito desenhado, que seja um processo respeitoso, democrático e tranquilo”, acrescentou.

Presidente estadual do PV, Osvander Valadão faz coro à opinião de Lohanna, ainda que considere precoce tratar de uma eventual saída do partido da federação. "Acho que ainda é cedo para tratar institucionalmente do assunto, mas o que a deputada falou tem todo meu apoio e concordância", disse o dirigente.

O estatuto da federação estabelece que um partido pode se desligar, desde que a comunicação seja assinada pelo seu representante legal – no caso, o presidente nacional – e acompanhada de uma cópia da resolução, aprovada pela maioria absoluta dos votos nos órgãos de deliberação nacional, que autorize o desligamento da agremiação. Embora a decisão seja de caráter nacional, as insatisfações em um Estado como Minas Gerais e a manifestação pública de um dos quadros logo após as eleições municipais podem sinalizar que, a partir de 2026, o PV não fará mais parte da federação.

Já o PCdoB, outro integrante da “Brasil da Esperança”, não manifestou insatisfação com a federação. O presidente do partido em Belo Horizonte, Richard Ferreira Romano, afirmou à coluna Aparte que considera o saldo positivo para a sigla na capital mineira. O partido, que apoiou Rogério Correia (PT) na campanha para a Prefeitura de BH, conseguiu eleger Edmar Branco (PCdoB) para a Câmara Municipal, após sua saída em 2020. Membros do diretório municipal também disseram que a decisão sobre a federação em 2026 sequer foi discutida nas instâncias partidárias até o momento.