O secretário de Estado de Governo de Romeu Zema (Novo), Gustavo Valadares, admitiu, em entrevista exclusiva a O TEMPO, que não é unanimidade entre os deputados estaduais. Em sua defesa, Valadares, que está licenciado do mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), voltou a afirmar que a relação entre o Executivo e o Legislativo, em todas as instâncias, mudou.
O secretário de Governo disse estar ciente das críticas de deputados estaduais a ele. “Sei que dentro da ALMG existem críticas ao meu trabalho, ao meu perfil, à forma como eu gosto de desenvolver e de viver o dia a dia aqui na Secretaria de Governo. (É) Supernatural. Eu recebi isso com muita naturalidade dos meus colegas deputados estaduais, mas a gente tem tentado melhorar”, apontou Valadares.
O secretário já protagonizou, por exemplo, um atrito público com o líder do governo Zema na ALMG, João Magalhães (MDB), escolhido para o cargo pelo próprio secretário. Após saber apenas pela imprensa da saída de Gustavo Barbosa da Secretaria da Fazenda, Magalhães se recusou a atender ligações de Valadares. “Se ele não me atendeu por três vezes, vou atendê-lo só depois da terceira vez”, disse, na oportunidade. No dia seguinte, eles apararam as arestas.
Porém, o secretário defendeu que, hoje, a atenção dispensada pelas demais secretarias aos deputados estaduais é maior. “Principalmente das que fazem entregas, como saúde, educação e infraestrutura, para a necessidade de uma relação mais próxima, permanente com parlamento, de uma divisão das vitórias e dos louros e dos investimentos feitos nos municípios”, citou ele, que ainda ponderou que a relação entre o governo e a ALMG tem um “espaço gigantesco” para melhorar.
Valadares reafirmou que a instituição das emendas impositivas individuais mudou o relacionamento entre os poderes, dando mais independência ao Legislativo. “Antigamente, tinha deputado que era da base do governo e deputado que era de oposição. Manda projeto para a ALMG e eu sabia que, se a base tinha 50 deputados, 50 votos eu teria. Hoje, não é assim. É projeto a projeto”, disse.
O secretário citou a relação entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Congresso Nacional, onde a base também oscila. “Não sou partidário do presidente Lula, mas existe alguém no país, hoje, que tenha maior conhecimento de como deve ser a construção de uma boa relação entre o Executivo e o Legislativo do que ele, que é presidente pela terceira vez? E ele está apanhando do Congresso constantemente, porque a relação mudou”, reiterou Valadares.
As dificuldades de relação entre o governo Zema e a ALMG têm se refletido diretamente nas votações em plenário, em que a base, em diferentes oportunidades, sequer reuniu o quórum necessário. Durante a análise de vetos do governador e, inclusive, da adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), o presidente Tadeu Leite (MDB), o Tadeuzinho, chegou a intervir para garantir o mínimo de parlamentares necessários para as votações.
Fora o quórum, o Palácio Tiradentes enfrenta dificuldades com a bancada do PL, que, ao lado do PT, tem a maior bancada da ALMG. Ligados às forças de segurança pública, o ex-vice-líder do governo Bruno Engler e deputados estaduais como Caporezzo, Delegada Sheila, Eduardo Azevedo e Sargento Rodrigues votam contra o governo em pautas ligadas aos servidores públicos estaduais. Na última segunda (16 de dezembro), inclusive, Zema chegou a recebê-los na Cidade Administrativa.
Questionado se o PL já poderia ser considerado um partido que não é da base do governo, Valadares negou. “Continuo falando que a base do governo tem 56 deputados”, respondeu. Em seguida, no entanto o secretário admitiu que o governo nunca teve 56 votos favoráveis em um projeto “mais polêmico”. “A gente nunca teve, mas, se você for analisar, existe uma variação daqueles que votam um projeto comigo para outro projeto. Cada projeto é uma novela para mim”, acrescentou.